sábado, setembro 30, 2006

Procura-se

- Oi, amigo, tudo bem! Estou te ligando porque fiquei sabendo que você vai tomar umas ‘brejas’ com a...
- É, eu estou sabendo, não me pergunte como. Mas eu queria te pedir um favor.
- Obrigado. Sabia que podia contar com você. Primeiro queria que você mandasse um abraço pra ela, se bem que aposto que ela vai declinar. Depois, queria que você perguntasse se ela podia devolver minha felicidade.
- Pois é rapaz, Eu te contei que a gente tinha se separado, né? Então, nêgo, naquela correria, aquele stress todo, você sabe como é que é. Lembrei de pegar minha escova de dentes, meu aparelho de barba, roupas, etc, mas acabei esquecendo ela.
- A felicidade, ora, sobre o quê a gente ta falando?
- Já! Já pedi de volta, mas ela diz que não ficou por lá, mas eu tenho quase certeza que sim.
- Pois é, acho que ela é que não procurou direito. Só encontrou umas roupas que estavam na lavanderia, que devolveu dois dias depois, sem lavar, numa sacola da C&A, onde estava o presente que eu tinha dado alguns dias antes. Pensei até que era o presente que ela tava devolvendo, mas esse ficou..
- Não, só dei pela falta algum tempo depois.
- Então, faz o seguinte: pede pra ela procurar no armário do banheiro, na gaveta onde ela guarda os apetrechos de depilação, ou embaixo, junto com o papel higiênico. Ou então pode estar naquele maleiro do guarda roupa, no canto, onde guardávamos as coisas velhas, para doação, sabe? Dá uma olhada na casinha do cachorro também. Quem sabe estava jogada pelo chão e ele pegou pra brincar.
- Não, acho que não. O cachorro é bem obediente, não costuma estragar as coisas que encontra pelo caminho. Meu medo é ter caído no tanque e ter ido pelo ralo. Ou alguém meio que distraidamente, sabe, ter deixado cair na privada e, sem querer claro, ter dado a descarga. Aí, fudeu!
- Você ajuda a procurar? Ótimo. Não é uma coisa muito grande. È bem da comum mesmo, que nunca fui muito exigente nesses assuntos. Sou discípulo de Sartre. As
coisas simplesmente existem, valem pelo que elas são, e não pelo que poderiam, ou gostaríamos, que viessem a ser. Mas é frágil. Não sei se agüenta muito tempo sem cuidados especiais.
- Eu sei cara, que isso é uma coisa muito pessoal, que não podemos entregar na mão
dos outros, para tomarem conta. Mas, também, só agora é que todo mundo me fala isso?
- Não, nunca tinha me acontecido antes. Bem ou mal, ela sempre vinha comigo.
Sempre junto, por perto.
- E você acha que não tenho procurado? Às vezes, andando na rua, parece que a vejo logo ali, na minha frente, balançando o rabinho. Aí apresso o passo pra chegar perto e, decepção, não era a minha, era de outro. Já pensei até em botar anúncio no jornal. Daqueles bem melodramáticos, tipo ‘criança está doente, gratifica-se bem’.
- Não, tudo bem. Se não achar aquela, providencio uma outra. E tomo mais cuidado da próxima vez, pode deixar.
- Pra você também. Abração, amigo! Lembranças à patroa, e boas brejas pra você.

quinta-feira, setembro 28, 2006

Um filme de amor

Ouvi dizer que La Cicarelli está pensando em processar os autores/divulgadores de suas cenas calientes em plagas espanholas. Não sei se ela realmente está abatida pela divulgação, ou se está apenas querendo mais, divulgação. Mas se for a primeira hipótese, aconselho a beldade a ler esse texto ou, se estiver díficil lá, pegar aqui, e ir dormir tranquila.
Enquanto isso, no Bananão, o debate corre xoxo, sem a presença da Geni com Teflon, aquela que todo mundo joga bosta nela, mas não gruda.

quarta-feira, setembro 27, 2006

Recomendaçõs de leitura de Paulo Francis (final)

2. parte
Desculpem a lambança, mas esses posts eram pra sair no 'livros e afins' apenas, mas por uma dificuldade em editar os links das obras mencionadas, em função dos templates especiais, que nós blogueiros adoramos ter, e depois não sabemos dominar, combinei com o Valter postar aqui onde esses links aparecem.
Agora tem ciência, com a filosofia incluída, mais um pouco de história, arte, com os gregos voltando a cena, literatura e política, com as grandes revoluções dos séculos 19 e 20. Sempre através da sua ‘metralhadora giratória’, que não poupa Darwin, em A Origem das Espécies, nem Joyce, todo, dizendo-os desnecessários. Atentar para sua observação sobre o ‘relativismo niilista’ de Dr. Fausto. Alguém contesta?
Se na primeira parte até que não fiz feio, com relação aos títulos lidos, nessa segunda vejo o quão ignorante ainda sou. De todos os títulos sobre ciências e política, só li 'Rumo a Estação Finlândia'. Mas tudo bem. Como dizem que ainda sou novo, tenho tempo pra aprender. Vou urgente dar uma passadinha no Sebo do Messias, que os preços do Submarino estão salgados demais pra mim.
Completando o serviço, PF (ele, com seu elitismo, iria adorar ser citado assim) tem uma biografia, Paulo Francis – Brasil na Cabeça, de Daniel Piza.

Continuação:

Meu conhecimento científico é quase nenhum. Mas lí, claro, A Lógica da Pesquisa Científica, de Karl Popper, quando entendi o que esses cabras querem. Para quem quer um começo apenas, recomendo o prefácio do Novum Organum, de Francis Bacon, que quer dizer, o título, novo instrumento, e Bacon explica o método científico e o que objetiva a ciência. E para complementá-lo leia o prefácio dos Os Princípios Matemáticos da Filosofia Natural, de Isaac Newton, e o prefácio de Bertrand Russel e Alfred North Whitehead de seus Principios da Matemática. Também vale a pena ler a História da Filosofia Ocidental, de Bertrand Russel, e o capítulo sobre Positivismo Lógico, que é a filosofia calcada no conhecimento científico. Em resumo, tudo que pode ser provado lógica e matematicamente, é filosofia.O resto não é. Acho isso perfeitamente aceitável. Dispenso o resto.É nas artes que está a sabedoria. Como viver bem sem ler Hamlet, de Shakespeare? Está tudo lá em linguagem incomparável, é de uma clareza exemplar, tudo que nós já sentimos, viremos a sentir, ou possamos sentir.Preferi citar junto com Shakespeare uma peça grega, que considero vital: Antígona, de Sófocles. Há uma tradução de Antígona, em verso, por Guilherme de Almeida, que Cacilda Becker representou no Teatro Brasileiro de Comédia. Antígona é o que há de melhor na mulher. É a jovem princesa cujos irmãos morreram em rebelião contra o tio, o rei Creon, e ela quer enterrá-los, porque na religião grega espíritos não descansam enquanto os corpos não são enterrados. Creon não quer que sejam enterrados, como advertência pública a subversivos. Antígona desafia Creon. Ele manda matá-la. Ela morre. Seu noivo se suicida. É o filho de Creon, que enlouquece. Parece um dramalhão, mas não é. É a alma feminina devassada em toda sua possibilidade fraterna. Hegel achava que Antígona era o choque de dois direitos, o direito individual e o direito do Estado. E assim definiu a tragédia.A melhor história de Roma é a de Theodore Mommsem. A melhor história da Renascença é a de Jacob Buckhardt. Tudo que você precisa saber.E aprenda com um dos mais famosos autodidatas, Bernard Shaw (o outro é Trotski). Leia todos os prefácios das peças dele. São uma história universal. Um estalo de Vieira na nossa cabeça. Em um dia você lê todos. Anotando, uma semana. Também vale a pena ler a Pequena História do Mundo, de H. G. Wells, superada em muitos sentidos, mas insuperável como literatura.Passo tranquilo pelo Iluminismo. Foi tão incorporado a nossa vida, que não é necessário ler Voltaire ou Diderot. Os livros de Peter Gay sobre o Iluminismo são excelentes. Dizem tudo que se precisa saber. Se se quer saber mesmo o que foi o cristianismo, a obra insuperada é As Confissões de Santo Agostinho, uma das grandes autobiografias, à parte a questão religiosa.Não é preciso ler A Origem das Espécies, de Darwin, mas é um prazer ler Viagens de um Naturalista ao redor do Mundo, as aventuras de Darwin como botânico e zoólogo, a bordo do navio inglês Beagle, nos anos 1830, pela América do Sul, com páginas inesquecíveis sobre Argentina, Brasil e Galápagos, que está até hoje como Darwin encontrou (e o Brasil e Argentina, na sua alma?)Houve três grandes revoluções no mundo, a americana, a francesa e a russa. A literatura não poderia ser mais copiosa. Mas basta ler, por exemplo, Cidadãos, de Simon Schama, para se ter um relato esplêndido da revolução interrompida, 1789-1794, na França, e concluir com o livro de Edmund Wilson, Rumo à Estação Finlândia. Schama é conservador, Wilson não era, quando escreveu, fazia fé, ainda na década de 30, como tanta gente, na Revolução Russa. Mas a esta altura, e mesmo antes de ele morrer, em 1972, é fácil notar que a Revolução Russa não teve o Terror interrompido, como a Francesa, mas continuou até Gorbachev revelar o seu imenso fracasso.O melhor livro sobre a Revolução Francesa é História da Revolução em França, de Edmund Burke, de 1790, que previu o Terror de Robespierre e Saint-Just. Se o estudante quer um livro a favor da Revolução Francesa, leia, o título é o de sempre, o de Gaetano Salvemini. A favor da russa a de Sukhanov, que a Oxford University Press resumiu num volume, ou A Revolução Russa, de Trotski, um clássico revolucionário. Mas os fatos falam mais alto que o brilho literário de Trotski. Sobre a Revolução Americana não conheço livro bom algum traduzido, mas por tamanho e qualidade, um volume só, sugiro a da editora Longman, A History of the United States of America, do jovem historiador inglês Hugh Brogan, 749 págs, apenas, quando comprei custava US$ 25. Tem tudo que é importante.Em economia, a Abril publicou 50 volumes dos principais economistas. Eu não perderia tempo. Têm tanta relação com a nossa vida como tiveram Zélia e a criançada assessora. Mas há o Dicionário de Economia, também da Abril. Quando tascarem o jargão, você consulta para saber, ao menos, o que significa a embromação. Economia se resume na frase do português: quem não tem competência não se estabelece.Dos romances do século 19, Guerra e Paz, de Tolstoi, e Crime e Castigo, de Dostoiewski, me parecem absolutamente indispensáveis. Guerra e Paz porque é o retrato completo de uma sociedade como uma grande família, porque rimos e choramos sem parar, porque contém um mundo e as inquietações do protagonista, Pierre Bezhukov, que até hoje não foram respondidas. Crime e Castigo, porque exemplifica toda a filosofia de Nietzsche de uma maneira acessível e profundamente dramática, de como o cérebro humano é capaz de racionalizar qualquer crime, que tudo é relativo, em suma, a pessoa que pensa e age, como Raskolnikoff, o protagonista. Vale tudo. Dostoiewski, para nos impedir de aniquilar uns aos outros, acrescenta que não se pode viver sem piedade.Dos modernos, Proust é maravilhoso, mas penoso, Joyce é desnecessário, mas vale a pena ler as obras-primas de Thomas Mann, A Montanha Mágica, para saber o que foi discutido filosoficamente neste século, e Dr Fausto, que leva o relativismo niilista que domina a cultura moderna e de que precisamos nos livrar, se vamos sobreviver culturalmente, como civilização, e não como meros consumidores, num nível abjeto de satisfação animal.Há muitas obras que me encantaram e não estou, de forma alguma, excluindo autores ou quaisquer livros. A lista que fiz me parece o básico. Em algumas semanas, duas horas por dia, se lê tudo. Duvido que se ensine qualquer coisa de semelhante nas nossas universidades. Se eu estiver enganado, dou com muito prazer a mão à palmatória.

Por Paulo Francis, para o jornal - OESP - 30/05/91

terça-feira, setembro 26, 2006

recomendações de leitura

Recomendações de Leitura de Paulo Francis
Encontrei em um canto do meu HD. Não me lembro de onde tirei, mas vale muito a pena. O genial Paulo Francis indica as suas leituras fundamentais. Francis funcionava, pra mim, como uma espécie de guru, ou para ser mais clássico, como ele gostava, um oráculo. O conheci através da Folha de São Paulo, da qual era assinante, lá pelos idos de 1976, com sua coluna Diário da Corte, onde escreveu até que um atrito público com o jovem, na época, jornalista Caio Túlio Costa, colega de redação na época, o deixasse em situação indelicada junto a direção do jornal, fato que, aliado ao seu temperamento orgulhoso, forçaram sua saída. Com a sua ida para o Estadão, ficou mais difícil acompanha-lo, mas sempre que possível comprava o jornal nos dois dias que ele escrevia. Dos seus livros acho que tenho todos, alguns lidos mais de uma vez. Seu jeito fluente de escrever, coloquial, culto mas sem frescuras é um modelo para mim. Senti sua morte, em 1997, como se fosse a de um amigo, e muito especial, daqueles que você sabe que vai sentir falta pro resto da sua vida.
O texto vai em duas partes, porque não gosto de textos longos em blog. Nessa primeira parte ele contextualiza seu objetivo, falando poucas e boas sobre a educação moderna, e começa com a literatura brasileira, que os nacionalistas irão chiar, pois só listou três obras de dois autores, e sobre uma de suas paixões, os gregos, finalizando com algumas obras sobre história da antiguidade, passando pela Roma antiga. Muita gente não dá importância para essa fase da humanidade, mas quando você descobre que muitos dos dilemas atuais, tanto no aspecto pessoal quanto político, já estavam presentes naquela época, é bom para dar uma outra perspectiva sobre a natureza humana.
De quebra, todos os livros indicados, existem em português, e com links para o submarino, pra quem quiser adquirir.Se bem que os links são antigos, podendo alguns não mais existir. E antes que pensem mal deste humilde escriba, aviso que não estou levando nenhum por fora. Divirtam-se, que amanhã tem o resto.

"Um guia para ter cultura: Uma bibliografia básica para quem quer compreender a aventura da humanidade"

Pedem minha ficha acadêmica para jovens vestibulandos...Não tenho. Tentei um mestrado na Universidade Columbia em Nova York 1954, mas desisti, aconselhado pelo professor-catedrático Eric Bentley. Achou que eu perdia o meu tempo. Li toda a literatura relevante, de Ésquilo a Beckett, e sabia praticamente de cor a Poética de Aristóteles. Em alguns meses se lê tudo que há de importante em teatro. Li e reli anos a fio.Mas, sem o doutorado ou nem sequer mestrado, me proponho fazer algumas indicações aos jovens, que, no meu tempo, seriam supérfluas, mas que, hoje, talvez tenham o sabor de novidade. Falo de se obter cultura geral. É fácil.Educação era a transmissão de um acúmulo de conhecimentos. Hoje, é uma adulação da juventude, que supostamente deve fazer o que bem entende, estar na sua, como dizem, e o resultado é que os reitores de universidades sugerem que não haja mais nota mínima de admissão, que se deixe entrar quem tiver nota menos baixa. Deve haver exceções, caso contrário o mundo civilizado acabaria, mas a crise é real, denunciada por gente como o príncipe Charles, herdeiro do trono inglês, e por intelectuais como Alan Bloom, que consideram a universidade perdida nos EUA. No Brasil, houve a Reforma Passarinho nos anos 60. A ditadura militar tinha o mesmo vício da esquerda. Queria ser popular. Era populista. Quis facilitar o acesso universitário ao povo, como reza o catecismo populista. Ameaça generalizar o analfabetismo.Não há alternativa à leitura. Me proponho apontar alguns livros essenciais ao jovem, um programa mínimo mesmo, mas que, se cumprido, aumentará dramaticamente a compreensão do estudante do mundo em que está vivendo.Começando pelo Brasil, é indispensável a leitura de Os Sertões, de Euclides da Cunha. É curto e não é modelo de estilo. Euclides escreve como Jânio Quadros fala. É cara do far-te-ei, a forma oblíqua de que Jânio se gaba. Mas o livro é de gênio. Nos dá a realidade do sertão, que é, para efeitos práticos, o Brasil quase todo, tirando o Sul; a realidade do sertanejo, e do nosso atraso como civilização, como cultura, como organização do Estado. Euclides mostra o choque central entre o Brasil que descende da Europa e o Brasil tropicalista, nativo, selvagem. Euclides apresenta argumentos hoje superados sobre a superioridade da Europa, mas nem por isso deixa de estar certo. Tudo bem ter simpatia pelo índio e o sertanejo, o matuto, mas nosso destino é ser, à brasileira, à nossa moda, um país moderno nos moldes da civilização européia. Euclides começou o livro para destruir Antônio Conselheiro e a Revolta de Canudos, mas se deixou emocionar pela coragem e persistência dos revoltosos e terminou escrevendo um grande épico, em prosa, que o poeta americano Robert Lowell, que só leu a tradução, considera superior a Guerra e Paz, de Tolstoi.Mas o importante para o jovem é essa escolha entre o primitivo irredentista dos Canudos e a civilização moderna, porque é o que terá de enfrentar no cotidiano brasileiro. É o nosso drama irresolvido.Leia algum dos grandes romances de Machado de Assis. O mais brilhante é Memórias Póstumas de Brás Cubas. Para estilo, é o que se deve emular. O coloquialismo melodioso e fluente de Machado. É um grande divertimento esse livro. Eu recomendaria ainda para os que tem dificuldade de manejar a lingua O Memorial de Aires. É o livro mais bem escrito em português que há.Os gregos são um dos nossos berços. Representam a luz e a doçura, na frase de um educador inglês, Mathew Arnold (também poeta e crítico). Arnold falava contra a tradição judaico-cristã, dominante na nossa cultura, na nossa vida, a da Bíblia e do Novo Testamento, que predominaram no mundo ocidental desde o século 5 da Era Cristã, quando o imperador romano Constantino se converteu ao cristianismo. Estudos gregos sérios só começaram no século 19, quando se tornaram currículo universitário, porque antes os padres e pastores não deixavam.Mas leia originais. Escolhi quatro. Depois de se informar sobre Platão na enciclopédia do seu gosto, se deve ler A Apologia, que é a explicação de Sócrates a seus críticos, quando foi condenado à morte, e Simpósio, um diálogo de Platão. Platão não confiava na palavra escrita. Dizia que era morta. Preferia a forma de diálogo.Na Apologia se discute o que é mais importante na vida intelectual. A liberdade de ter opiniões contra as ortodoxias do dia. Ajudará o estudante a pensar por si próprio e ter a coragem de suas convicções.Depois, o delicioso Simpósio. É uma discussão sobre o amor, tudo que você precisa saber sobre o amor sensual, o altruístico, o que chamam de platônico, é o amor centrado na sabedoria. Platão colocou, à parte Sócrates, seu ídolo, no Diálogo, Aristófanes, o grande gozador de Sócrates. Na boca de Aristófanes põe uma de suas idéias mais originais. Que o ser humano era hermafrodita, parte homem parte mulher, e que cada pessoa, depois da separação, procura recuperar sua parte perdida, e daí a predestinação da mulher certa para um homem e do homem certo para uma mulher.Imprescindível também ler As Vidas, de Plutarco, o grande biógrafo da Antiguidade. Ficamos sabendo como eram os grandes nomes em carne e osso, de Alexandre, paranóico, a Júlio Cesar, contido, a Antônio e Cleópatra. Shakespeare baseou grande parte de suas peças em Plutarco e leu em tradução inglesa, porque Shakespeare, como nós, não sabia latim ou grego. E, finalmente, como história, leia A Guerra do Peloponeso, de Tucídides. É sobre a guerra entre Atenas, Esparta, Corinto e outras, durante 27 anos, no século 5 antes de Cristo. Lendo sobre Péricles, o líder ateniense, Cléon, o führer espartano, e Alcebíades, o belo, jovem e traiçoeiro Alcebiades, nunca mais nos surpreenderemos com qualquer ato de político em nossos dias. É o maior livro de história já escrito. Sempre atual.Da Roma original basta ler Os Doze Césares, de Suetônio, e Declínio e Queda do Império Romano, de Gibbon. Mais um banho de natureza humana.

segunda-feira, setembro 25, 2006

tesssste...gravando

Queria te dizer aquilo que gostaria de ouvir você dizer que estou sentindo muito sua falta queria que tudo saísse como um jorro direto no editor do blogger sem revisão nem edição acbei de assistir 21 gramas tudo no filme é bonito e verdadeiro de doer os homens as mulhres as crianças mas nada é alegre nem tem mocinhos nem bandidos ontem li de uma sentada só as memórias eróticas de Toni Bentley mulher corajosa ela pra quem é pau não pênis é buceta não vagina e cú é claro que não é ânus indicação do Biajoni depois não conseguia dormir uma pressão no estômago velha conhecida no sábado queria sair tinha feito a barba estilo bumbum de nenê mas aí acabou a luz aqui e eu fui ficando ouvindo o vento e a tempestade que se aproximava e tudo começou a ter muita paz e eu dormi acordando quando a luz voltou e levantei só pra fazer voltar tudo pro escuro novamente e lembrar do Marlon Brando dançando o último tango passando aquela manteiga dura do inverno de Paris na Maria Scheneider e dizer a eles que agora já tem manteiga cremosa marca Lecco e papél higiênico Neve perfumado e vitaminado enquanto ele dava uma cambalhota espetacular e falava coisas profundas sobre Deus e a vida naquela voz esquisita mas agora só me interesso pelo que está na superfície porque aí as coisas são mais fáceis enquanto toca Simon and Garfunkel silent night only night good night .

terça-feira, setembro 19, 2006

Quem mexeu no meu queijo?

Hoje, no serviço, fui convocado para uma sessão de um filme sobre o livro do título acima. Pra quem não sabe é um best seller das corporações e, segundo meu filho, também dos cursos das faculdades das mais diversas áreas. Já tinha ouvido falar do sucesso do livro, então fui com a curiosidade aguçada assisti-lo. Ainda mais que o livro foi distribuído como ‘presente’ para os aniversariantes do departamento do mês de agosto, pela nossa gerente, que tem o sobrenome de Caçador, com o compromisso de marcarem uma reunião para discutirem o livro. Só um parênteses: vocês achariam confortável trabalhar com uma gerente com esse sobrenome? Brincadeirinha, M.! Espero que ela não seja uma das 7,5 pessoas que lêem esse blog, se não estou ferrado, pois meu aniversário é em novembro. Fecha parênteses.
Não vou contar o filme aqui, porque não é esse o objetivo. Perguntei para a colega ao lado, que foi uma das aniversariantes premiadas, se o livro ia além do mostrado no filme. Ela disse que não. Então, resumindo, a tese é que você não deve temer as mudanças, e sim se preparar para identificar para onde os ventos estão soprando, e correr atrás antes que seja tarde.
O que questiono é o seguinte: correr atrás para se adaptar as mudanças, sem questiona-las, é o melhor procedimento?
Trabalho na grandiosa área de informática, ou para ser mais ‘muderrrno’, TI (tecnologia da Informação). É consenso que é uma área de constante evolução. Já aí, acho que confundem um pouco evolução com transformação.
Há cerca de dez anos atrás me considerava um autentico dinossauro, ou seja, fadado a extinção, pois trabalho com desenvolvimento de sistemas para computadores de grande porte, vulgo mainframe. Isto porque todos, sem exceção, preconizavam o fim desse tipo de equipamento. Era a era do ‘Down Sizing’, recomendado por 11 entre 10 consultores, contratados a peso de ouro pelas empresas que queriam estar na vanguarda do mercado. Ou seja, substituir os mastodônticos ‘mainframe’, por sistemas de microcomputadores em rede. Felizmente, veio o bug do milênio e descobriram um enorme parque de programas instalados que precisavam de manutenção, urgente, para suportar a virada do século, pois, nas priscas era da informática, acharam que guardar o ano das datas de todos os documentos com apenas duas posições era suficiente. Descobriram que não era. Ia dar o maior rebu se todas as datas não fossem convertidas para ano com quatro posições. Íamos ter situações como, por exemplo, um título vencido desde 1998 (registrado apenas como 98) ia passar a ser um título a vencer daqui a 98 anos, após a virada para o ano 2000. Dá pra imaginar a confusão? Bom, aí os dinossauros deitaram e rolaram, fizeram tantas horas extras pra converter os sistemas, que teve gente que comprou até casa com o excedente de numerário.
Resumindo a história, várias empresas que optaram pelo tal de down sizing, voltaram as suas arquiteturas iniciais, porque perceberam, também, que o volume de informações a serem arquivadas aumentava exponencialmente. Se tivessem ficadas quietinhas, se não estivessem tão preocupadas com os ventos da mudança, não teriam tido o gasto que tiveram.
O que quero enfatizar é que, mais importante que detectar as mudanças é analisa-las. Interessa pra mim e pra minha empresa? Vai agregar algum valor ao meu negócio ou é só um modismo passageiro? A evolução é uma constante na humanidade, mas muitas vezes o processo ocorre em círculos, ou seja, vai pra trás, antes de ir pra frente. Ter calma e discernimento sobre o que está acontecendo, fora e dentro da empresa, é mais importante que o medo de perder o bonde do ‘progresso’. Até hoje, recebo ligações de colegas de outras empresas procurando gente que conheça Asssembler, que foi a primeira linguagem de programação dos computadores.
Se você quer aprender sobre o mundo empresarial ideal, acho mais produtivo ler esse livro. Não terminei ainda sua leitura, mas acho salutar saber que seu autor, empresário do qual já havia lido esse outro livro, esteja mais preocupado em saber como tornar sua empresa mais atraente para as pessoas que lá trabalham, em como motivar essas pessoas a irem trabalhar satisfeitas e com orgulho do que lá fazem. Isso é evolução empresarial. O resto é apenas busca por lucros máximos.

sábado, setembro 16, 2006

Casa de Areia


Assiti hoje a tarde o filme ‘Casa de Areia’, lançado o ano passado, de Andrucha Waddington, com as maravilhosas Fernandas, Montenegro e Torres. Interpretam mãe e filha que chegam, em 1910, a um lugar ermo, belo mas inóspito, dominado por dunas, lagunas e um vento incessante. Foram levadas pelo marido da filha, um português lunático e desbravador. Logo na chegada, acabam ficando sozinhas, com a debandada dos ‘peões’ e a morte do português num acidente. Bom, não vou contar a história do filme, porque quero recomenda-lo, e não iria estragar o prazer de quem quiser seguir minha dica.
O que quero dizer é que achei o filme maravilhoso. Já conhecia sua sinopse e, quando o vi na locadora hesitei em pega-lo, achando que seria um filme massante, lento, daqueles que não se deve assistir depois da meia noite, sob pena de dormir antes da metade.
Realmente, o filme não é um vídeo-clipe, longe disso. É construído, em grande parte, em planos únicos, mas as cenas não são longas. Abrange um período de quase sessenta anos, então tem muita coisa pra contar. Pessoas nascem, crescem, se modificam e envelhecem durante a trama. O diretor preferiu não abusar da maquiagem pra mostrar o envelhecimento dos personagens, optando por substitui-los através da técnica do salto no tempo. Já com as protagonistas, grandes atrizes que são, fazem um jogo interessante de troca de personagens, que é até difícil de perceber ao longo do desenrolar da história, o que aumentou o prazer de assisti-lo.
Outro ponto interessante: sabia que o filme tinha sido rodado na região dos Lençóis Maranhenses. Mas em nenhum momento a beleza da paisagem interfere no drama da história contada. Depois, assistindo ao Make Off, aliás inperdível, percebi que isso era intencional da equipe de produção. A idéia não era promover o turismo na terra dos Sarney, no que eles tiveram total sucesso.
Através do make off, percebe-se que a produção do filme foi em verdadeiro exercício de logística. Primeiro, o roteiro teve que ser o mais detalhado possível, pois as primeiras leituras, já com os atores, foi feita inicialmente no Rio de Janeiro. Em seguida uma equipe de pré-produção selecionou o local das filmagens e checkou a infra-estrutura para a equipe técnica, formada por quase cem pessoas. Imagina dar condições mínimas pra esse mundo de gente, numa paisagem que lembra um autentico deserto.
Todo processo de filmagem foi cercado de muitas dificuldades. Dentre as mais prosaicas estava a constante necessidade de se apagar as pegadas deixadas na areia pelos técnicos, antes de cada tomada. Vale a pena conferir isso no make off.
Finalizando: existe muita discussão se o cinema nacional deve ou não ter patrocínio oficial. Esse filme teve, entre seus principais patrocinadores a Eletrobrás e a Petrobrás. Mas foi feito sob a marca Columbia Pictures, e com vários outros patrocinadores privados. Logo não sei quanto tem de público e quanto tem de privado nessa empreitada. Mas, pelo resultado obtido, mesmo que fosse inteiramente patrocinado com dinheiro público, acho que valeria a pena. Infelizmente o mercado brasileiro ainda é pequeno para os filmes nacionais. Exceto as Xuxas e Didis da vida, esses sim, não precisam usar verbas públicas em seus filmes. A concorrência americana é muito forte, e os esquemas de distribuição e exibição são engessados pelos grandes estúdios de Hollywod. Então, é muito bom ter um produto nacional, sem nacionalismos ou xenofobismo, de alta qualidade como esse. Agora, vai ver a bilheteria que deu. É uma pena.

quarta-feira, setembro 13, 2006

Poetando

Duas poesias. Uma de qualidade indiscutível. Não sei o nome, pois é do LP Cabeça (que eu saiba não foi lançado em CD), que tenho gravado em fita K7, sem o nome das músicas. Teria que pesquisar na internet. Desculpem o desleixo. Outra, pra contrabalançar, é de qualiade mais que discutível, então, já sabem de quem. Apreciem sem moderação.


De Valter Franco

O raciocínio lento
O poço, o pensamento
O olho, o orifício
O passo, o precipício

Eu quero que esse teto caia
Eu quero que esse afeto saia
Eu quero que esse teto caia
Eu quero que esse afeto saia, já

Vermelho natural
No rosto e no lençol
Com gosto de água e sal
Misturando o bem e o mal

Eu quero que esse teto caia
Eu quero que esse afeto saia
Eu quero que esse teto caia
Eu quero que esse afeto saia, já.


A outra

Rescaldo

Expectativas não atendidas
Receios não superados
Lembranças presentes
Angústias compartilhadas

Medo que paralisa.

E nós, aqui, na mesa do bar, a olhar
Um para o outro
Ouvindo a música de bossa, a jurar
Eterna amizade,
Porto seguro, mútuo, fátuo

terça-feira, setembro 12, 2006

A Decisão

Ela havia aceitado seu pedido de reconciliação, mais uma vez. E o convite para o jantar comemorativo de praxe. Ms agora enquanto se preparava para encontra-lo, estava decidida a voltar atrás e terminar tudo, de vez. Não estava mais disposta a se entregar e se sentir insegura com a falta de... reciprocidade? Não, isso era muito do seu jargão técnico de economista. Na verdade era cumplicidade o melhor termo. Não queria mais pensar que, enquanto ela necessitava da posse, ele desejava o compartilhar. Um tal de ‘sentimento do mundo’ que ela não entendia. Enquanto ela dizia tudo que tinha no coração, ele racionalizava, ponderava prós e contras e, muitas vezes, se calava. Aquele equilíbrio a incomodava. Não sentia uma entrega completa. Definitivamente, os objetivos não eram os mesmos. Não, não era possível continuar.
Mas o jantar decorreu agradabilíssimo. A conversa era sedutora, animada e inteligente, embora essa última não fosse essencial naquelas circunstâncias. Ele estava particularmente feliz aquele dia, o que não era muito comum. Nesses momentos era difícil não sucumbir à mesma sensação de encantamento inicial.
Voltaram para sua casa e, antes que ela esboçasse o pedido para conversar, ele desceu do carro, abriu sua porta, e a puxou para a varanda interna da casa, onde tudo começou. Sem nada dizer, iniciou um beijo, com volúpia. Não conseguiu esboçar reação, pelo contrário. Aquele ainda tinha gosto de primeiro beijo.
Foi quando ele desceu a mão pelas suas costas, nuas, até a altura da cintura, que ela se lembrou. Estava sem calcinha. E ele percebeu. E agora, pensou, o que ele vai pensar? Como pode cometer esse deslize, dar um sinal contrário ao que pretendia. Sua feminilidade, seu instinto de sedução natural, falaram mais alto. Não havia como usar aquele lindo vestido, com aquele ajuste colado ao corpo, e aquele tecido, com uma calcinha, sem marcar. Isso, com certeza, sempre esteve fora de cogitação. Mas agora precisava pensar em algo rápido, porque sua mão direita já estava acariciando sua perna, por baixo do vestido e, antes que pudesse deter aquele avanço, assim que a mão chegou na altura da cintura, deslizou para o seu púbis e dali, numa reviravolta de cento e oitenta graus, seus dedos tocaram onde ela temia... queria. Não demorou muito para soltar um gemido, contido... sentido.
Olharam-se bem nos olhos. Ele retirou a mão, passou os dedos molhados sobre seus lábios,e os secou com outro beijo.
Em seguida sorriu, desejou boa noite, voltou para o carro e saiu. Não foi tudo rápido assim, foram momentos eternos. Ela entrou, tentando lembrar quais eram mesmo as palavras que estava tão decidida a dizer.
No dia seguinte, após uma noite de completa insônia, levantou bem cedo e foi até a casa dele para deixar um envelope com uma carta escrita durante a madrugada, e a aliança. Não colocou no envelope o estojinho vermelho que a embalava originalmente, cuja visão tanto a amolecera tempos atrás, porque não o encontrou. Por que a carta nesses tempos de e-mail? Porque queria alguma coisa mais personalizada, mais quente, que contivesse um pouco de sua personalidade. Portanto, lá estava ela na sua letra angulosa, elegante.
Desceu do carro e se dirigiu a passos lentos até a caixa de correspondência. Pisou sobre um folheto com as ofertas do supermercado do bairro. Havia outro igual, obstruindo o bocal da caixa onde ela devia colocar seu envelope. O dia já estava quente, àquela hora da manhã. Um pássaro cantou no alto da quaresmeira florida, na calçada. A cabeça meio zonza fez com que demorasse pra perceber seus dois vira-latas, de raça, assim ele orgulhoso os apresentava, latindo alegres e ruidosamente ante sua presença, com certeza estranhando porque ela não abria o portão e entrava, como tantas vezes fizera. As chaves da casa! Sim, havia esquecido no porta luvas do carro, que estava ligado. Também tinha que devolver. Ouviu o barulho da sua janela se abrindo no alto do sobrado. A última coisa que queria era ser encontrada ali. Tinha que agir, e rápido.
Quando a janela se abriu, ele só pode ouvir o ronco de motor acelerando um carro encoberto pela folhagem da quaresmeira. No banco do passageiro, por cima de vários papéis, um folheto de supermercado, amassado.

quinta-feira, setembro 07, 2006

O Voto dos Nulos

Parece que a campanha pelo voto nulo, que rola pela internet, teve força suficiente para fazer até um ministro do STF, o Marco Aurélio Mello, dar um esclarecimento sobre o assunto, conforme informa o Fernando Rodrigues no seu blog. Independente desse esclarecimento, que acho oportuno, gostaria de colocar aqui um texto do Gustavo Ioschpe, sobre o mesmo tema que, anterior ao posicionamento do ministro, pra mim deixou claro a inutilidade do voto nulo.
Enfatizando que cada um tem direito a fazer o que quiser do seu voto, devo concordar com Helio Schwartsman que diz: “Se, por temer eleger picaretas, justamente os que estão mais preocupados com a ética no Congresso deixassem de votar, teríamos uma legislatura ainda menos selecionada no que diz respeito a esse critério. Em suma, como diz o adágio popular, se ficar o bicho come, se correr o bicho pega.”

Gustavo Ioschpe
O voto dos nulos


VOCÊ SE LEMBRA da consternação nacional com o alto índice de votos brancos e nulos na última eleição? Das propostas de reforma política destinada a aplacar o descontentamento dos que votaram branco/nulo? E das eleições que foram canceladas pelo fato de mais da metade do eleitorado ter invalidado seu voto? Lembra?
Se não se lembra, não fique preocupado: é que nunca aconteceu. O voto em branco ou nulo não é uma forma de protesto, não é um grito "contra tudo isso que está aí". Por uma simples razão: ele é solenemente ignorado. E é ignorado porque quem pode fazer a reforma para mudar o sistema foi eleito através do sistema roto e, portanto, não tem lá grandes interesses de mudá-lo. Por isso não é o voto que se invalida, mas o eleitor. Quem vota branco ou nulo simplesmente some do radar político. Seu desaparecimento não será fonte de consternação nem reforma.
Pelo contrário. Quem anula o voto está, na verdade, dando um voto ao candidato líder das pesquisas. Nas eleições parlamentares isso não faz muita diferença. Mas em uma eleição majoritária de dois turnos o efeito pode ser decisivo.
Pois é de se imaginar que a maioria daquelas pessoas que decidem anular seu voto o fazem por um sentimento de revolta com a bandalheira que virou o país. São pessoas que provavelmente não votariam no atual presidente. Mas, ao anularem os votos, estão fazendo exatamente isso.
Imagine que o eleitorado consiste de cem votantes e que 41 pretendem votar no candidato A, 24, no B, 10, no C e 5, no D. Vinte pretendem anular/votar em branco/ficar em casa. Resultado: com 41 de 80 votos válidos, o candidato A se elege em primeiro turno. Se os 20 descontentes espalhassem seus votos entre os outros candidatos, teríamos segundo turno.
Aí o nulo diz: "Mas eu também não quero votar no B nem no C nem no D. Nenhum deles me representa". OK. Mas cabem três ponderações. Primeira: não existe o candidato perfeito.
Eleição não é exercício de criação do candidato ideal, mas de escolha do menos pior dentre os postulantes.
Quando uma pessoa politizada a ponto de querer usar o voto como arma de protesto o joga fora, o que ela está fazendo é reforçar o peso dos outros eleitores.
Delega-se a escolha para pessoas que talvez se importem menos.
Segunda: em uma eleição de dois turnos, não anular o voto significa comprar tempo. Vai que o seu anticandidato acaba indo para o segundo turno e nesse tempo você se convence da habilidade do sujeito? Apesar da absoluta modorra que tem sido essa campanha, mais tempo para discutir propostas e projetos é sempre positivo. E, finalmente, eleger um candidato em primeiro turno significa fortalecê-lo sobremaneira.
Aquele que quer anular seu voto por protesto ao sistema vai acabar reforçando os mandarins do sistema que rejeita. Não faz sentido
.

segunda-feira, setembro 04, 2006

Um dia de domingo

Odeio domingos!
Não é o dia todo, vale dizer. A manhã até que é gostosa. Comprar o pão quentinho, tomar café lendo Élio Gaspari e companhia, na Folha. Planejar o almoço. Ficar no ‘dolce far niente’ ou, se estiver sol, ir até o clube e ‘far niente’ por lá.
O problema começa depois do rango. Aí, em geral, bate um vazio, apesar do estomago cheio. Acho que isso é resquício da adolescência, quando tinha o conjunto e as tardes eram para ensaiar.
Aquele grupo de amigos tentando fazer música, trancados na autêntica sauna que era o quarto de ensaios, construído sem janelas, exatamente para não vazar som e incomodar a sesta dos vizinhos e dos pais. As discussões acaloradas. O Antonio (vocalista) literalmente empapado de suor, torcendo a camiseta encharcada. O mundo seria diferente, com certeza, com nossos planos mirabolantes. Era-nos inconcebível desperdiçar aquelas tardes dormindo. Era o momento de expor as idéias musicais e poéticas de cada um, gestadas durante a semana. Muitas vezes havia frustração quanto aos resultados conseguidos. Mas isso não importava, muito.
Até hoje, sem nada de especial para fazer, luto contra esse sono vespertino. É um horário em que até o vento se retira e fica tudo estático. As tardes mornas, ou seriam mortas? Todos procurando recuperar as forças exauridas, para reiniciar o ciclo do trabalho.
As noites, então, são verdadeiro suplício. A leseira da tarde se tranforma em inanição completa e, o simples levantar do sofá, nossa, nem pensar meu rei!
Outro dia, domingo por certo, fazendo uma caminhada pelas ruas da infância e adolescência, senti toda essa atmosfera carregada. Passar pelo CDM, em cujas quadras jogávamos o futebol, e ver ele dominado por um bar que emitia um pagode ensurdecedor e distorcido, enquanto pilhas de garrafas de cerveja explicavam o olhar fixo e vazio de seus consumidores. O quintal da General Severiano, que não tem mais o pé de limão, nem o galpão de quinquilharias do seu Leon, que aguçava nossa curiosidade e temores infantis. Foi substituído por um sobrado de fundos, provavelmente para dar abrigo ao filho(a) que casou, e ficou morando por ali, premido pelas dificuldades econômicas.
Chegar em casa e ver o filho deitado no sofá, dormindo, com a TV ligada no Faustão, esperando o inicio do indefectível jogo de futebol. As mulheres conversando, depois da cozinha arrumada, assuntos que não me interessam.
Se sentir preso na engrenagem da máquina de fazer doidos, sem forças, sem planos. Ainda bem que sou só eu que sinto isso. Poderia ser pior? Claro que poderia. Isso é só um pesadelo. É só dar uma chacoalhada na cabeça e acordar. Ir até o Astros e tomar um mojito que passa.
Em tempo, só pra não ficarem me achando um E.T. dominical, existe uma situação especial que é o domingo com feijoada, a autêntica, herdada da senzala. Aí tem que ter os três C’s. Caipirinha antes, cerveja durante e cama depois, que ninguém é de ferro.

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