quarta-feira, dezembro 20, 2006

Bar Piratininga (final)

Nota Explicativa: Quando cliquei para públicar a postagem anterior o Firefox informou que não conseguiu conexão com o blogger. Fui conferir e vi que, realmente, o post não estava lá. Como estou de férias, estou mais relapso ainda com esse bloguinho e, só hoje, percebi que o post apareceu. Estou desculpado pela demora, Valter e Luz? Então, segue o enterro...que o defunto já está fedendo.

Todos dizem que devemos ser autênticos. Mas muitas vezes somos como ‘Capitú’, aquela do olhar dissimulado. Devo assumir que penso grande. O modelito comportado, que tento fazer servir em mim, não me cabe, não me satisfaz. Servia até antes da separação. Mas já incomodava. A Senhorita B parecia ser uma resposta ao que incomodava, mas apenas se transformou num outro tipo de incomodo.

No livro ‘Coiote” do Roberto Freire o personagem André, quando interpelado porque ele amava, sim, era esse o termo, tantas mulheres, ele dizia que era porque cada uma delas satisfazia um pedaço do seu ser. Eu sinto isso? Não existe uma única pessoa que possa nos fazer sentir a plenitude da vida? A não ser que você rebaixe sua expectativa. Caso contrário, todas as pessoas tem suas belezas. Cada uma é única, mas ninguém nos completa totalmente. Mas todas são maravilhosas. Quando depositamos todos os nossos desejos, todos nossos ensejos de felicidade numa única, vamos nos decepcionar?

Pra mim não existe só sexo, sem amor. Se perguntarmos pra Danuza, se foi só sexo o que ela teve com ‘o homem’, tenho certeza que ela dirá que não. O problema é que existem pessoas muito diferentes de você, ou você é muito diferente da maioria das pessoas.

Existem pessoas ordinárias e outras extraordinárias (Raskolnikov em ‘Crime e Castigo’). Não ordinárias no sentido pejorativo, mas pessoas que se sujeitam às regras e outras que querem quebrar as regras.

Acho, putz quanto achismo, que superei o risco da depressão. O meu indicador são as coisas que me tocam profundamente, como as artes. Enquanto puder me maravilhar, me emocionar, com um filme, um quadro e, principalmente, com uma música, estou a salvo e estou vivo. Enquanto sentir prazer em estar com pessoas, enquanto estiver inquieto, insatisfeito que seja, mas procurando. A procura pode ser mais interessante, o caminho pode ser melhor que a chegada, os preparativos, as preliminares melhor que o gozo. “Caminhante, não há caminho. O caminho se faz ao caminhar”. Não me atrevo a citar em espanhol.

A contemporaneidade, o subjetivismo da modernidade. É o hoje não o amanhã, afinal o drama da sobrevivência foi superado para uma parte da humanidade. O problema é o consumismo que pode levar o planeta a exaustão. O homem moderno precisa entender que a vida simples pode estar garantida. Ao passo que a acumulação pode causar uma catástrofe inimaginável. O desejo da posse, numa sociedade que tem todos os instrumentos para prover o básico, só leva ao retrógrado e a auto-destruição. Mas, sem desespero. ‘Manéra a barra, na marra’.

Já que entrei pro lado da sociologia, gostaria de falar de uma diferença que venho notando ultimamente.

Os anos 60-70 procuravam explicar o homem, e seus conflitos, por critérios coletivos. Então as teorias focavam os comportamentos humanos como resultado do meio social. As angústias e frustrações eram frutos de sistemas políticos opressivos, injustos, ditatoriais. Era o reino de Marx e Engels, das ideologias, da guerra fria entre capitalismo e comunismo.

Atualmente, tenho lido e ouvido falar de idéias, digamos, mais antropológicas, que procuram explicar comportamentos individuais, como, por exemplo, homem e mulher. Deixa explicar melhor. Hoje a preocupação é tentar entender as diferenças antropológicas homem X mulher. Por exemplo, e que puta exemplo de sociologia rasteira, essa semana, zapeando a tv, vi no programa da Hebe Camargo a Marília Gabriela, sempre linda, dizer que: ‘Coitados, os homens são galinhas! Eles tem aquele instinto reprodutor ancestral, que faz com que tentem COBRIR (sic) o maior número de fêmeas possível, enquanto a mulher quer um macho único para protege-la e a sua prole’. Incrível, não! Mas ela, na sua maravilhosa inteligência, disse isso não com rancor, mas aceitando isso como um fato, nem bom nem ruim.

Seria ela uma protomutante? Outra coisa moderna essa do protomutante (vide Roberto Freire). Se a teoria da evolução de Darwin é aceita como valida, e quase universal, exceto alguns vilarejos americanos, porque ela não estaria agindo, ainda hoje e continuamente, sobre o seu mentor intelectual, o ser humano?

Nossa, quanto papo cabeça tá rolando aqui na mesa ao lado!

Só pra finalizar, por hoje: três filmes ótimos que assisti sozinho nos últimos anos:

Adeus Lenin, O Declínio do Império Americano (revival) e As invasões Bárbaras. Porque sózinho? Porque achei que minha companheira não iria gostar deles e aí, pra compensar, teria que assistir a algum blockbuster de hollywood. Se bem que ainda quero ver o último do Supermam.

quinta-feira, dezembro 14, 2006

Bar Piratininga (I)

Hoje, depois de uma noite mal dormida, da dificuldade em levantar pela manhã, resolvi que não queria voltar para Jarinú à noite. Que diabos! Precisava aproveitar a vantagem de morar sozinho, de poder fazer o que quiser, ou pelo menos o que a pouca grana permitir. Botei uma muda de roupa na mala e fui pro trabalho. No caminho pensava no que fazer.

Logo me veio a mente o Piratininga. Dentre as muitas vantagens desse bar estava a dele ser neutro, em termos de memória afetiva. Afinal aqui passei bons momentos com a Senhorita A e, talvez, não tão bons com a Senhorita B.

Pra evitar aquela imagem dantesca de um cara sozinho, meia-idade(?), sentado numa mesa, com visão privilegiada da entrada, com um guardanapo preso ao pescoço, aquela cara de ‘fome’, boca ligeiramente aberta com a língua saindo pra fora, a lamber os beiços, por onde um fio de baba tentava escorrer; a faca na mão direita e o garfo na esquerda, ambos levantados em posição de ataque, esperando a primeira incauta a adentrar o recinto. Pra evitar isso é que prefiro estar aqui, discretamente, a escrever.

Outra hipótese: sentar numa mesa lá fora. Isso porque, conforme o mestre nesses assuntos Xico de Sá, levaria vantagem para o caso do bar ser o destino daquela donzela que brigou com o marido, ou namorado, e resolveu sair e DAR pro primeiro que encontrasse. Ainda assim, teria a concorrência, desleal, do manobrista.

Mas aqui estou eu ouvindo, num volume civilizado, Caetano, podendo até pescar algumas palavras da mesa ao lado.

Antes de vir pra cá, dando um tempo a espera da melhora no transito de Sampa, parei num posto pra comer alguma coisa, e fiquei folheando o livro de memórias da Danuza Leão. Acabei adorando a história com que ela finalizou o livro.

Conta ela que não sabia como terminar suas memórias, e resolveu buscar inspiração numa ‘esticadinha’ em, nada mais nada menos que, Paris. Quem foi rainha, nunca perde a majestade. Na sua primeira noite lá, com insônia, coitada parece eu, resolve vestir jeans, camiseta e tênis, e ir até um bar pra tomar um drink. Tudo muito chique, como vemos. Na volta, já quase duas da manhã, é abordada por um homem, segundo ela, ‘nem jovem nem velho, nem bonito nem feio, apenas um homem’. Que a convidou para um drink, depois de dizer que ela era ‘trés bélle’. Claro que ela recusou, educadamente, e entrou no hotel. Ao chegar no quarto, em seguida, toca a campainha. Era o mesmo homem. Dizia estar hospedado no mesmo hotel, quarto 62. Enfatizou que ambos estavam sozinhos. Por que ela não ia até seu quarto? Claro que, novamente, ela recusou, já não tão educadamente.

Mas, passado algum tempo, pediu uma ligação para o quarto 62 e, avisou: ‘estou subindo’. Não sem antes trocar o tênis por uma sandália de salto. Esse detalhe, achei maravilhoso.

Ao amanhecer quando acordou, como ocorre nos melhores filmes, ela nota que ele já tinha ido embora. Ela ficou até sem saber seu nome. Acho que a noite foi boa.

Bom, quem já escreveu de forma criativa, alguma vez na vida, sabe que o escritor, até mesmo nas memórias, pode não resistir a tentação de fantasiar um pouco.

Mas os detalhes podem não importar, quando se tenta relatar uma experiência intensa. E, acho, foi isso que ela nos quis passar, ao explicar os motivos de sua atitude. Simplesmente não pensou. Se deixou levar pelos acontecimentos.

Uma coisa que ela disse achei interessante, o desejo de um homem pode despertar o desejo na mulher. Em suas palavras: “a mulher prefere ser desejada, mais do que ser amada”.

Aí, me lembro da Senhorita A. Foi ela que me contou da situação de se sentir olhada como se o cara estivesse de garfo e faca na mão, que aproveitei no inicio. Ao que acrescentou que nunca sentiu essa sensação comigo.

Gozado, já a Senhorita B, não gostava do jeito que eu olhava para 'as outras'. Será que, pra ela, eu olhava de um modo diferente?

Duas ex-namoradas preferiram ser apenas amigas. Uma outra disse que, mesmo casada, com a certidão de casamento pendurada na cabeceira da cama, ainda assim não se achava capaz de fazer sexo... comigo? Não disse comigo, mas fiquei nas conjecturas, ora pois!

Realmente, RRRRRealmente, como dizia Chacrinha, sempre tive dificuldade, acho que por medo do ridículo, de mostrar os meus desejos. Será que ainda não é tarde pra aprender?

Mas, voltando à Danuza, ela teve uma coisa que tem me intrigado. Chamo, poéticamente, de ‘amor fátuo’. Mas tegiverso, tegiverso!

Porque estou aqui hoje? Como quero encaminhar minha vida daqui pra frente? Porque cheguei nessa encruzilhada?

Estava hoje lembrando dos sábados na antiga casa. O dia começava cedo, junto com a Senhorita A, que tinha que ir trabalhar. Com os filhos ainda dormindo, ia ao supermercado, açougue, cuidar do abastecimento da casa. Depois as tarefas de jardinajem: cortar grama, arrancar o mato, podar as plantas, etc. Depois lavar o carro. No fim do dia, exausto, fazer uma caipirinha de vodka, por um CD pra ouvir nas caixas externas, e sentar pra contemplar o jardim bonito e brincar um pouco com a cachorra, enquanto esperava o retorno da Senhorita A, pra gente decidir onde iria jantar. Ela se arrumava, se pintava, ficava mais bonita e saiamos.

Às vezes era meio sem graça. O lugar não era legal, ou a conversa não fluía. Mas outras era, com se diz, ‘tudo de bom’.

Me lembro do restaurante, perto do Juventus, onde estávamos com a filha e a sobrinha, pois o filho já estava se entocando, não sei se por causa do computador, ou se já era o problema da acne. Mas estávamos falando pras gurias sobre como achávamos que devia ser um relacionamento, acho que usando nós como exemplo. Até que num momento, a filha disse:” Pai, mãe, é por isso que amo vocês”. Pena que não gravei a cena, ou melhor, gravei onde ela não pode ser apagada, na memória.

Parêntesis: começou a música ao vivo! Um standard de jazz. Esse bar é ótimo. É difícil escrever ouvindo essa música. A música é uma viagem dos sentidos. Fecha parêntesis.

(Continua amanhã)

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