quinta-feira, novembro 23, 2006

Recuerdos de mi vida

Visitando o blog da Luz, estava fazendo um comentário a esse post, quando vi que estava me estendendo em demasia. Resolvi transformar o comentário em post e convida-la a uma visita por essas plagas do Atlântico.
Houve uma época em que, de alguma forma me vi afastado de minha mãe, também. Não da mesma forma drástica. Digamos que apenas, durante o dia. Isso porque, meu pai, que sofria de fortes dores na coluna, teve diagnosticado pelo médico um problema que era agravado pelo serviço pesado que ele fazia. Ele dirigia um caminhão que prestava serviço para a gloriosa São Paulo Alpargatas Têxtil, que hoje muita gente não deve saber, mas é a fabricante das sandálias Havaianas, dos tênis Topper, e da extinta linha U.S.Top de jeans e camisas (“Bonita camisa, Fernandinho!”), dentre outros produtos. Seu serviço consistia em abastecer de suprimentos as diversas fábricas existentes, a maioria no bairro da Mooca. E, muitas vezes, era obrigado a fazer força para arrumar a carga no caminhão. E isso é que foi desaconselhado pelo médico, dizendo que num esforço qualquer ele poderia ter sérios problemas lombares.
Resolveram, os velhos, juntar as economias e comprar uma adega, também na Moóca.
Prudentes como eram, minha mãe ficou tocando o novo negócio, enquanto meu pai continuava no velho, até ver no que dava.
Para cuidar dos pimpolhos, eu e minha irmã, mais ou menos da mesma idade que a Luz e seu irmão, foi convocada a já famosa Guelita.
Dessa forma passamos, mais de um ano nessa conformação de vida. Foi daí que veio todo meu amor por essa bisavó alegre e brincalhona, embora roncasse pra diabo, tanto é que passamos a dormir com as portas dos quartos fechada, pra não ouvir seu ronco no sofá da sala.
Eu, de minha parte, não posso dizer que sentia falta da minha mãe durante o dia, pelo contrário, a Guelita era muito mais condescendente com as peraltices do bisneto, como é comum nas avós. Embora sempre falasse que ia contar tudo pra minha mãe no fim do dia, isso raramente acontecia. Mas consegui perceber a falta que minha mãe sentia da presença constante dos filhos. Tanto é que foi com alívio indisfarçável que ela comunicou que iriam fechar a adega, pois não estava dando lucro.
Esse era o ponto que queria comentar no post. Mais do que os filhos, seus pais, Luz, sofreram com a separação. Deviam estar se questionando o tempo todo se a decisão tomada era a melhor. Hoje, você, nós, como pais, sabemos bem o que eles devem ter sentido com o distanciamento.
Voltando a ‘mis recuerdos’, a Guelita voltou pra casa de um de seus filhos, na famosa Jaçanã do ‘Trem das Onze’ do Adoniram Barbosa. Dona Adélia voltou a cuidar da sua casa, meu pai concordou em contratar um ajudante e, alguns anos depois tive contato com meu primeiro velório. Adivinha de quem?
Me lembro que fiquei indignado com o clima, para os meus parâmetros de marinheiro de primeira viagem, por demais ‘alegre’ do velório, que foi num domingo, na casa em Jaçanã.
Agora as coincidências temporais: naquele almoço no Montechiaro, meu filho perguntou quem era a Guelita. Informei , e fui lembrado pela minha mãe: ela também se chamava Adélia, e eu nem lembrava mais. Faleceu no dia do casamento de um neto seu, quando estava saindo para a cerimônia. Estava com vestido de festa, maquiada, coisa que nunca havia presenciado. Se sentiu mal ao entrar no carro. Retornou para a casa, se deitou, e faleceu. Como em toda sua vida, não deu trabalho a ninguém, nem mesmo para vesti-la para o enterro. Foi com roupa de festa mesmo, e maquiada. Linda!

4 Comments:

At novembro 24, 2006 10:37 AM, Blogger Luz disse...

Olá Wilson
Quando começamos a ler uma “história”, desejamos saber mais e mais… adorei ler esta passagem, deixou-me muito sensibilizada. Os avos deixam sempre muitas saudades.
Meu irmão e eu, ficamos só 2 meses separados dos meus pais, coisa pouca, mas deu para sentir a falta deles.

Um abraço

 
At novembro 25, 2006 6:34 AM, Blogger valter ferraz disse...

É, companheiro! Foi fundo nas memórias agora, hein? Fiquei surpreso, também não sabia que o nome de Guelita era Adélia. Saudades dela.
Hei e a nossa cerveja, fica para quando?
Abração
PS:como disse outro dia, fico feliz de ter feito parte de tua história pessoal por um período.

 
At novembro 27, 2006 3:50 AM, Anonymous Anônimo disse...

Difícil saber qual dos textos é mais pungente, o teu ou o da Luz. Muito sensíveis ambos.

 
At novembro 27, 2006 9:31 PM, Anonymous Anônimo disse...

Itiro, espero que cumpra sua ameaça. Tentei retribuir a visita, mas seu link para www.gaijincolorado.blogspot.com está dando erro. Porque será?

Luz, eu que agradeço pela inspiração.

Valter, dia 10 ou 11 estarei baixando aí em Mongaguá.

Marconi, o outro texto está anos Luz à frente.

 

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