quarta-feira, setembro 27, 2006

Recomendaçõs de leitura de Paulo Francis (final)

2. parte
Desculpem a lambança, mas esses posts eram pra sair no 'livros e afins' apenas, mas por uma dificuldade em editar os links das obras mencionadas, em função dos templates especiais, que nós blogueiros adoramos ter, e depois não sabemos dominar, combinei com o Valter postar aqui onde esses links aparecem.
Agora tem ciência, com a filosofia incluída, mais um pouco de história, arte, com os gregos voltando a cena, literatura e política, com as grandes revoluções dos séculos 19 e 20. Sempre através da sua ‘metralhadora giratória’, que não poupa Darwin, em A Origem das Espécies, nem Joyce, todo, dizendo-os desnecessários. Atentar para sua observação sobre o ‘relativismo niilista’ de Dr. Fausto. Alguém contesta?
Se na primeira parte até que não fiz feio, com relação aos títulos lidos, nessa segunda vejo o quão ignorante ainda sou. De todos os títulos sobre ciências e política, só li 'Rumo a Estação Finlândia'. Mas tudo bem. Como dizem que ainda sou novo, tenho tempo pra aprender. Vou urgente dar uma passadinha no Sebo do Messias, que os preços do Submarino estão salgados demais pra mim.
Completando o serviço, PF (ele, com seu elitismo, iria adorar ser citado assim) tem uma biografia, Paulo Francis – Brasil na Cabeça, de Daniel Piza.

Continuação:

Meu conhecimento científico é quase nenhum. Mas lí, claro, A Lógica da Pesquisa Científica, de Karl Popper, quando entendi o que esses cabras querem. Para quem quer um começo apenas, recomendo o prefácio do Novum Organum, de Francis Bacon, que quer dizer, o título, novo instrumento, e Bacon explica o método científico e o que objetiva a ciência. E para complementá-lo leia o prefácio dos Os Princípios Matemáticos da Filosofia Natural, de Isaac Newton, e o prefácio de Bertrand Russel e Alfred North Whitehead de seus Principios da Matemática. Também vale a pena ler a História da Filosofia Ocidental, de Bertrand Russel, e o capítulo sobre Positivismo Lógico, que é a filosofia calcada no conhecimento científico. Em resumo, tudo que pode ser provado lógica e matematicamente, é filosofia.O resto não é. Acho isso perfeitamente aceitável. Dispenso o resto.É nas artes que está a sabedoria. Como viver bem sem ler Hamlet, de Shakespeare? Está tudo lá em linguagem incomparável, é de uma clareza exemplar, tudo que nós já sentimos, viremos a sentir, ou possamos sentir.Preferi citar junto com Shakespeare uma peça grega, que considero vital: Antígona, de Sófocles. Há uma tradução de Antígona, em verso, por Guilherme de Almeida, que Cacilda Becker representou no Teatro Brasileiro de Comédia. Antígona é o que há de melhor na mulher. É a jovem princesa cujos irmãos morreram em rebelião contra o tio, o rei Creon, e ela quer enterrá-los, porque na religião grega espíritos não descansam enquanto os corpos não são enterrados. Creon não quer que sejam enterrados, como advertência pública a subversivos. Antígona desafia Creon. Ele manda matá-la. Ela morre. Seu noivo se suicida. É o filho de Creon, que enlouquece. Parece um dramalhão, mas não é. É a alma feminina devassada em toda sua possibilidade fraterna. Hegel achava que Antígona era o choque de dois direitos, o direito individual e o direito do Estado. E assim definiu a tragédia.A melhor história de Roma é a de Theodore Mommsem. A melhor história da Renascença é a de Jacob Buckhardt. Tudo que você precisa saber.E aprenda com um dos mais famosos autodidatas, Bernard Shaw (o outro é Trotski). Leia todos os prefácios das peças dele. São uma história universal. Um estalo de Vieira na nossa cabeça. Em um dia você lê todos. Anotando, uma semana. Também vale a pena ler a Pequena História do Mundo, de H. G. Wells, superada em muitos sentidos, mas insuperável como literatura.Passo tranquilo pelo Iluminismo. Foi tão incorporado a nossa vida, que não é necessário ler Voltaire ou Diderot. Os livros de Peter Gay sobre o Iluminismo são excelentes. Dizem tudo que se precisa saber. Se se quer saber mesmo o que foi o cristianismo, a obra insuperada é As Confissões de Santo Agostinho, uma das grandes autobiografias, à parte a questão religiosa.Não é preciso ler A Origem das Espécies, de Darwin, mas é um prazer ler Viagens de um Naturalista ao redor do Mundo, as aventuras de Darwin como botânico e zoólogo, a bordo do navio inglês Beagle, nos anos 1830, pela América do Sul, com páginas inesquecíveis sobre Argentina, Brasil e Galápagos, que está até hoje como Darwin encontrou (e o Brasil e Argentina, na sua alma?)Houve três grandes revoluções no mundo, a americana, a francesa e a russa. A literatura não poderia ser mais copiosa. Mas basta ler, por exemplo, Cidadãos, de Simon Schama, para se ter um relato esplêndido da revolução interrompida, 1789-1794, na França, e concluir com o livro de Edmund Wilson, Rumo à Estação Finlândia. Schama é conservador, Wilson não era, quando escreveu, fazia fé, ainda na década de 30, como tanta gente, na Revolução Russa. Mas a esta altura, e mesmo antes de ele morrer, em 1972, é fácil notar que a Revolução Russa não teve o Terror interrompido, como a Francesa, mas continuou até Gorbachev revelar o seu imenso fracasso.O melhor livro sobre a Revolução Francesa é História da Revolução em França, de Edmund Burke, de 1790, que previu o Terror de Robespierre e Saint-Just. Se o estudante quer um livro a favor da Revolução Francesa, leia, o título é o de sempre, o de Gaetano Salvemini. A favor da russa a de Sukhanov, que a Oxford University Press resumiu num volume, ou A Revolução Russa, de Trotski, um clássico revolucionário. Mas os fatos falam mais alto que o brilho literário de Trotski. Sobre a Revolução Americana não conheço livro bom algum traduzido, mas por tamanho e qualidade, um volume só, sugiro a da editora Longman, A History of the United States of America, do jovem historiador inglês Hugh Brogan, 749 págs, apenas, quando comprei custava US$ 25. Tem tudo que é importante.Em economia, a Abril publicou 50 volumes dos principais economistas. Eu não perderia tempo. Têm tanta relação com a nossa vida como tiveram Zélia e a criançada assessora. Mas há o Dicionário de Economia, também da Abril. Quando tascarem o jargão, você consulta para saber, ao menos, o que significa a embromação. Economia se resume na frase do português: quem não tem competência não se estabelece.Dos romances do século 19, Guerra e Paz, de Tolstoi, e Crime e Castigo, de Dostoiewski, me parecem absolutamente indispensáveis. Guerra e Paz porque é o retrato completo de uma sociedade como uma grande família, porque rimos e choramos sem parar, porque contém um mundo e as inquietações do protagonista, Pierre Bezhukov, que até hoje não foram respondidas. Crime e Castigo, porque exemplifica toda a filosofia de Nietzsche de uma maneira acessível e profundamente dramática, de como o cérebro humano é capaz de racionalizar qualquer crime, que tudo é relativo, em suma, a pessoa que pensa e age, como Raskolnikoff, o protagonista. Vale tudo. Dostoiewski, para nos impedir de aniquilar uns aos outros, acrescenta que não se pode viver sem piedade.Dos modernos, Proust é maravilhoso, mas penoso, Joyce é desnecessário, mas vale a pena ler as obras-primas de Thomas Mann, A Montanha Mágica, para saber o que foi discutido filosoficamente neste século, e Dr Fausto, que leva o relativismo niilista que domina a cultura moderna e de que precisamos nos livrar, se vamos sobreviver culturalmente, como civilização, e não como meros consumidores, num nível abjeto de satisfação animal.Há muitas obras que me encantaram e não estou, de forma alguma, excluindo autores ou quaisquer livros. A lista que fiz me parece o básico. Em algumas semanas, duas horas por dia, se lê tudo. Duvido que se ensine qualquer coisa de semelhante nas nossas universidades. Se eu estiver enganado, dou com muito prazer a mão à palmatória.

Por Paulo Francis, para o jornal - OESP - 30/05/91

3 Comments:

At setembro 28, 2006 9:20 AM, Blogger valter ferraz disse...

Bom meu amiguinho, teu post está lá no Livros e Afins publicadinho tim-tim-por-tim-tim. Desculpe-me a deficiência técnica quanto aos links, falar nisso vc bem que poderia ter colocado aqui um link para o "http://literaturaagora.blogspot.com" você não acha? Deve ter sido a emoção de ter encontrado um Paulo Francis na HD. Bom está tudo lá.
Grande abraço

 
At setembro 29, 2006 4:33 PM, Blogger valter ferraz disse...

BOm, voltei. Sabe, gostava muito de ler o Paulo Francis principalmente por que eu discordava muito dele, mas tinha que respeitar a cultura geral que ele exalava por todos os poros, não essa cultura de almaque que nos empurram goela abaixo como se fosse o Santo Graal. Agora sinceridade, nunca gostei de listas, de indicações tipo livros imperdíveis, filmes absolutamente necessários, etc e tal. Dispenso como sempre dispensei qualquer tipo de indicativos, gosto de andar à esmo pelas ruas, becos sujos da Boca do Lixo ou do luxo, tanto faz. Entrar em sebos(detesto as Fnacs, Livrarias da Vila, Saraiva, etc). Bom, sou franco atirador desde criancinha, vai saber né?

 
At setembro 30, 2006 3:18 PM, Blogger wilson falchi disse...

Valter, nesse seu segundo comentário, vou dar pitaco. Não acredito que quando vamos a uma livraria ou outra loja de artigo cultural, estejamos entrando 'puros'. Sempre levamos algo em mente. Não precisa ser uma lista de compras. Mas uma indicação de alguém que pensa como nós, é sempre levada em conta, consciente ou inconscientemente.
Mas sempre é bom deixar espaço para o franco atirador que existe dentro de nós.

 

Postar um comentário

<< Home

Free Web Counters
Website Counters
eXTReMe Tracker