sábado, setembro 16, 2006

Casa de Areia


Assiti hoje a tarde o filme ‘Casa de Areia’, lançado o ano passado, de Andrucha Waddington, com as maravilhosas Fernandas, Montenegro e Torres. Interpretam mãe e filha que chegam, em 1910, a um lugar ermo, belo mas inóspito, dominado por dunas, lagunas e um vento incessante. Foram levadas pelo marido da filha, um português lunático e desbravador. Logo na chegada, acabam ficando sozinhas, com a debandada dos ‘peões’ e a morte do português num acidente. Bom, não vou contar a história do filme, porque quero recomenda-lo, e não iria estragar o prazer de quem quiser seguir minha dica.
O que quero dizer é que achei o filme maravilhoso. Já conhecia sua sinopse e, quando o vi na locadora hesitei em pega-lo, achando que seria um filme massante, lento, daqueles que não se deve assistir depois da meia noite, sob pena de dormir antes da metade.
Realmente, o filme não é um vídeo-clipe, longe disso. É construído, em grande parte, em planos únicos, mas as cenas não são longas. Abrange um período de quase sessenta anos, então tem muita coisa pra contar. Pessoas nascem, crescem, se modificam e envelhecem durante a trama. O diretor preferiu não abusar da maquiagem pra mostrar o envelhecimento dos personagens, optando por substitui-los através da técnica do salto no tempo. Já com as protagonistas, grandes atrizes que são, fazem um jogo interessante de troca de personagens, que é até difícil de perceber ao longo do desenrolar da história, o que aumentou o prazer de assisti-lo.
Outro ponto interessante: sabia que o filme tinha sido rodado na região dos Lençóis Maranhenses. Mas em nenhum momento a beleza da paisagem interfere no drama da história contada. Depois, assistindo ao Make Off, aliás inperdível, percebi que isso era intencional da equipe de produção. A idéia não era promover o turismo na terra dos Sarney, no que eles tiveram total sucesso.
Através do make off, percebe-se que a produção do filme foi em verdadeiro exercício de logística. Primeiro, o roteiro teve que ser o mais detalhado possível, pois as primeiras leituras, já com os atores, foi feita inicialmente no Rio de Janeiro. Em seguida uma equipe de pré-produção selecionou o local das filmagens e checkou a infra-estrutura para a equipe técnica, formada por quase cem pessoas. Imagina dar condições mínimas pra esse mundo de gente, numa paisagem que lembra um autentico deserto.
Todo processo de filmagem foi cercado de muitas dificuldades. Dentre as mais prosaicas estava a constante necessidade de se apagar as pegadas deixadas na areia pelos técnicos, antes de cada tomada. Vale a pena conferir isso no make off.
Finalizando: existe muita discussão se o cinema nacional deve ou não ter patrocínio oficial. Esse filme teve, entre seus principais patrocinadores a Eletrobrás e a Petrobrás. Mas foi feito sob a marca Columbia Pictures, e com vários outros patrocinadores privados. Logo não sei quanto tem de público e quanto tem de privado nessa empreitada. Mas, pelo resultado obtido, mesmo que fosse inteiramente patrocinado com dinheiro público, acho que valeria a pena. Infelizmente o mercado brasileiro ainda é pequeno para os filmes nacionais. Exceto as Xuxas e Didis da vida, esses sim, não precisam usar verbas públicas em seus filmes. A concorrência americana é muito forte, e os esquemas de distribuição e exibição são engessados pelos grandes estúdios de Hollywod. Então, é muito bom ter um produto nacional, sem nacionalismos ou xenofobismo, de alta qualidade como esse. Agora, vai ver a bilheteria que deu. É uma pena.

2 Comments:

At setembro 17, 2006 10:32 AM, Anonymous Anônimo disse...

Ueba! gostei do serviço de clipping, agora já posso assistir sem medo de errar. Outro dia tentei assistir o Olga(Jaime Monjardim, não deu. Arrastado demais, devolví quase do jeito que apanhei na locadora). Assistí um bom dia desses: Os narradores de Javé. Cinema nacional da melhor qualidade. Agora tô querendo ver o do Cacá Diegues, esse novo que esquecí o nome. E aproveito prá ver esse que vc indicou. Abraço

 
At setembro 19, 2006 1:36 PM, Anonymous Anônimo disse...

No Brasil, se a bilheteria é pequena, muitas vezes é sinal de que o filme é bom, Wilson. Veja o caso dos filmes da Xuxa, por exemplo: sempre de casa cheia e no entanto...

 

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