sexta-feira, janeiro 27, 2006

I Love São Paulo

Nasci, não a 10 mil anos atrás como Raulzito, mas, um pouco menos, 48 anos na Maternidade do Brás. Morei na Mooca até os seis anos e, em seguida, nos mudamos para, como dizia a resto da família que continuou na Moóca, os ‘confins do Judas’ que, hoje, é um bairro vizinho a uma das zonas mais valorizadas da lado leste, o Jardim Anália Franco, o que fez com que o remediado aqui tivesse o imóvel, herdado da família, valorizado proporcionalmente. Deixei de morar na cidade a cerca de três anos, mas nunca perdi os vínculos, mantendo inclusive o titulo de eleitor na mesma seção.
O que gostaria de dizer sobre a cidade vem de três situações que mostram o quanto a cidade pode ser aconchegante em determinadas situações.

31.12.2004

Véspera de ano novo, estava só, morando em Jarinú, com um caso de amor mal resolvido, aguardando o desenrolar dos acontecimentos (vulgo dando um tempo).
Combinado de passar o ano na casa de minha mãe, chego a cidade por volta das 18 horas, ou seja, muito cedo pra começar as comemorações, resolvo dar uma paradinha na região da Rua Augusta pra espairecer. Vejo uma loja de CD´s aberta, a Neto Discos, e entro pra matar o tempo. Me surpreendo com a quantidade de pessoas no estabelecimento, afinal estavamos perto da virada do ano. Começo a olhar o acervo, na sua maioria composto de ofertas bem atraentes. Seleciono, todos a preços módicos, um CD do Oswaldinho do Acordeon, um volume da coleção Jazz for the open road, e dois DVD’s: um da ópera Carmem de Bizzet e , La Bohème de Puccíni, numa versão de Baz Luhrman (o diretor de Moulin Rouge).

12.05.2005

Véspera do dia das mães, novamente só, com o mesmo caso resolvido e depois, novamente, ‘engripado’. Havia me decidido dar um fim de semana de solteiro e, já que não tinha nenhum compromisso com os filhos, que iriam passar o fim de semana com a mãe, vou pra São Paulo no sábado à tarde decidido a ficar por lá até o domingo, dia sagrado da mama. Novamente a mesma região Augusta e Bexiga.
Inicio com um périplo pra verificar as condições de pernoite nos hotéis da região. Descubro que a opção mais em conta é alugar um quarto por volta das 22 horas, naqueles hotéis que costuman estilizar tanto a letra ‘H’ que ela na verdade parece mais um ‘M’. Identificada a melhor opção, resolvo pegar um cineminha no Espaço Unibanco. Assisti ao 'Relatório Kinsley', sobre um cientista americano que dedica boa parte da sua vida a estudos sobre a sexualidade. Na saída percebo que está esfriando e não tinha nenhuma blusa na bagagem. Eram cerca de 19 ou 20 horas. Em menos de cinco minutos de caminhada achei uma lojinha de oriental, não sei se coreano, japonês ou chinês, onde comprei um moleton por 25 reais.
Decidi que o jantar seria no Bexiga, mas como não queria gastar muito, fugi das cantinas e degustei um feijão de corda delicioso, junto com nordestinos e universitários na rua Santo Antonio.
Já era hora de pegar um quarto para tomar um banho e pensar na noitada. Me dirigi ao Café PIU-PIU onde vi que iria tocar um conjunto de rock anos 70-80. Lá chegando fico surpreso que eles não aceitam cartão para as despesas. Sem problema, como cliente Bradesco, basta uma volta pelos arredores para achar um caixa eletrônico e sacar o dinheiro. Com o imprevisto chego e as mesas já estão todas tomadas e, resolvo ficar no balcão do bar aguardando o inicio do shown. Nesse meio tempo duas pessoas, um jovem e um outro da minha idade chegam, ficam ao meu lado e, do nada, começamos a conversar e identificamos várias afinidades musicais. O papo vai rolando junto com a cerveja, junto com a apresentação do conjunto, que era muito bom, e quando vejo já são duas da manhã e resolvo ir ao banheiro, já tencionando ir embora.
Na saída do banheiro verifico que o bar estava super-lotado, de tal forma que pra chegar a saída tenho que ir me esgueirando entre a multidão. Quando de repente percebo que estou bem em frete ao palco e o conjunto ataca uma seleção de Led Zeppelin (me lembro de Black Dog e Rock’n’roll). Resolvo dar um tempo e, sem me dar conta, estou pulando como um adolescente junto com todos os outros ao meu lado, muitos adolescentes, de verdade.

DOMIGO em SETEMBRO de 2005

Aquele caso que ia e vinha, agora acabou FONDO e, novamente na casa da mama, levanto e digo que tinha marcado com um amigo, pra não me esperar para o almoço. Na verdade apenas a necessidade de ficar só. Novamente a mesma região da Augusta, ‘easy rider’. Compro o jornal e fico vendo as opções de cinema, as notícias, os colunistas preferidos. Isso ao lado de um boteco. Começo a observar as pessoas. Muitos solitários, outros, casais meio bizarros, em alguns animação, em outros sinais de tristeza, mas todos na rua, tomando drinks, almoçando pratos simples, aparentemente 'habitues' do local. Dou uma ‘flanada’ pela região e retorno ao mesmo ponto onde resolvo almoçar, antes tomando uma caipirinha. Vejo que as baterias estão recarregadas. Não quero mais ficar só. Ligo pra uma amiga (na verdade mais que isso) pra marcar um cinema para a tarde e um chopp depois.

Moral da história: uma cidade que trata tão bem seus solitários, não pode ser chamada de desumana. Seu maior potencial são as pessoas. É o tudo e todos num só lugar. Os problemas, são muitos, mas os potencias de solução são maiores ainda.

Pra finalizar a epigrafe do artigo do Contardo Calligaris de ontem na Folha (quem não entender bem, leia-o na integra):

Está na hora de acreditar que é possível inventar e contar histórias na paisagem concreta de nossa vida. Por quê? Porque podemos desrespeitar o espaço em que vivemos, mas sempre respeitamos o cenário de nossos sonhos.

terça-feira, janeiro 24, 2006

O Pneu

Ele entrou no metrô na estação República, já tarde da noite, depois de trabalho extra pra poder cumprir o cronograma do projeto. Ela já estava sentada fazendo palavras cruzadas. Do ângulo que ele estava podia observa-la sem ser invasivo. E ele a observou além do que normalmente fazia com outras mulheres. Chamou atenção sua cor, morena, olhos negros, boca bem delineada, e um nariz que beirava, não, era uma perfeição. A sombrancelha fina, parecia pintada por um Da Vinci inspirado. Perdido nessa contemplação o trajeto passou como um raio e, quando viu ela levantar, percebeu que também era a sua estação de desembarque.
Na saída da estação não fez questão de apressar o passo para poder acompanha-la à distância. Quando percebeu, estavam entrando no mesmo estacionamento e viu quando ela parou num carro igual ao seu, mesmo modelo e cor, poucos metros adiante. Entrou, entraram, cada um no seu carro e ele, saindo primeiro, ao contornar passando por ela, viu o pneu traseiro esquerdo no chão, quando ela também dava a saída, para só então perceber o problema. Pararam, e ele notou que não havia mais ninguém àquela hora no estacionamento, que pena . Imediatamente ofereceu seus serviços braçais.
Ao retirar o estepe do porta mala percebeu que o mesmo estava murcho. Ela ficou surpresa: como murcho se nunca o usei! Faziam dois anos que ela tinha comprado o carro, zero. Era a primeira vez que um pneu furava. Calibrar o estepe? Precisa? Não nunca calibrei!
Como os carros eram iguais, ele poderia emprestar o seu estepe, mas onde achar um borracheiro aberto aquela hora? Descobriram que moravam próximos um do outro, coisa de algumas quadras de distância, no mesmo bairro. Ele sugeriu que fossem pra casa e no dia seguinte, ajustaram seus horários de trabalho, e ele passaria no seu prédio pra irem a um borracheiro e trocar o pneu. E assim foi feito.
Naquela noite ele não conseguia deixar de pensar na moça, nas coincidências e, principalmente em dois olhares trocados.
No dia e hora seguintes combinadas, eles vão fazer a troca dos pneus. Ela fica muito agradecida e trocam telefones.
Na semana seguinte ele chega a conclusão que tanta coincidência não podia ser assim relevada, sem mais nem menos, e resolve ligar. Tudo bem com o pneu, então, que tal um jantar? Não, aquele fim de semana ela já tinha combinado passar na chácara de um primo. Mas ligue a semana que vem, quem sabe?
Ele já estava achando que era alarme falso, mas, na semana seguinte, contrariando sua natureza não muito persistente, ele liga de novo e, agora dá, na sexta, pode ser.
Uma cantina, um vinho italiano, uma ótima conversa e, um cinema e um barzinho na semana seguinte para, na próxima, o vinho já ser degustado no seu apartamento, acompanhado de uma massa que ele mesmo preparou.
Hoje, dois anos depois, ainda curtindo um relacionamento maduro e tranqüilo, quando numa roda de amigos alguém conta uma piada envolvendo a habilidade das mulheres com a direção e as coisas do automóvel, enquanto todos riem desbragadamente, ele apenas sorri e agradece, intimamente, pela maravilhosa natureza feminina.

segunda-feira, janeiro 23, 2006

Pra não dizer que não falei das flores

“Todos vigiam todos o tempo todo, para evitar que todos façam o que todos querem fazer”
(José Ângelo Gaiarsa)

Começando pelo início: porque, até hoje, não se instituiu o ensino de sexualidade no ensino fundamental (iniciação) c médio(avançado, diagamos), por exemplo. É sabido que a maioria dos pais tem dificuldades em estabelecer um dialogo frutífero sobre esse assunto com os filhos. Poderiam, em contrapartida, ter um papel importante em complementar as noções ensinadas na escola, que funcionaria como um catalisador das principais questões que envolvem o assunto.
Fala-se muito em “liberação sexual” mas, a rigor, ainda existem muitos tabus sobre amor e sexo.


O que é normal?
(José Ângelo Gaiarsa)

É quando, depois da festa, você se sente bem, se o mundo lhe parece um lugar bonito, se você se sente leve e em paz – e dorme. Ou se não dorme, sente vontade de dançar, de rir à toa, de abraçar as pessoas, de cantar...
Se ela também se sente assim então vocês estão no paraíso, combinação ideal de prazer, alegria e felicidade – o ponto mais alto da vida humana.
Aí é normal.
Então, porque você continua a ter dúvidas? Porque continua a se perguntar se o que faz - ou deixa de fazer – é normal, se “os outros” também fazem assim, quantas vezes, quanto dura, qual o tamanho...?
Vamos complicar um pouco. Você pode se sentir assim depois de um encontro com a namorada – ou até com a esposa! Mas pode se sentir assim também depois de um encontro com alguém do mesmo sexo, com uma garota (ou garoto) de programa, de um swing, de um triângulo, de um encontro grupal ou mesmo depois de um ato de amor com você mesmo. Ou seja: pode ter sido “fora da lei” e ótimo. Pode ter sido “dentro da lei” e péssimo.
Se foi bom de verdade, você vai olhar pra sua companheira com encantamento e gratidão, e vice-versa. Se não foi, você vai ficar ansioso, querendo se afastar o mais depressa possível.

sábado, janeiro 21, 2006

O Lutador

Hoje estava escutando, perdida nas sobras de um CD do Renaissance, a música The Boxer do Simon & Garfunkel. Essa música me acompanha desde os 13 ou 14 anos quando a escutei na vitrolinha Delta portátil de um tio meu, num clube de campo que meu pai era sócio próximo a represa Billings aqui em Sampa. Era um dia nublado, como quase todos naquela região, próximo a Serra do Mar. Lembro que estava deitado na grama e a música me pegou em cheio. Pedi o compacto simples emprestado (tá bom eu explico, era um vinil pequeno com uma música de cada lado, dá pra imaginar você ir até a loja pra comprar apenas duas músicas, nesse tempo de Internet e IPOD, mas os antigos faziam isso).
Não sei porque achava que nela havia uma síntese da vida. Não entendia nada de inglês e até hoje não me preocupei em traduzir sua letra, mas sei que fala da saga de um boxeador, acho que até foi trilha sonora de um filme, não lembro qual.
Hoje ouvindo e dando asas a imaginação, cheguei a conclusão que a sintese está na própria atividade fim do protagonista. É um lutador, assim como cada um de nós.
O pobre lutando pela sobrevivência, o remediado lutando por status, o rico lutando pela sua segurança, o romântico lutando contra as dores do amor, o avaro pra não perder dinheiro, o poeta lutando contra a loucura, enfim a lista pode ser enorme, mas acho que deu pra entender o sentido. Pronto, dei meu recado. Vamos a luta.

quinta-feira, janeiro 19, 2006

Sessentões


Só a sabedoria(?) e a liberdade que a idade permite, para cometer essas deliciosas baboseiras. Com vocês, dois exemplos desse maravilhoso CD.
(Em negrito, comentários de Caetano sobre as músicas).



Tarado
Composição: Caetano Veloso / Jorge Mautner

Gosto de ficar na praia deitado
Com a cabeça no travesseiro de areia
Olhando coxas gostosas por todo lado
Das mais lindas garotas, também das mais feias
Porque são todas gostosas e sereias
Pro meu olhar de supremo tarado
Tarado.

– Noites do Oriente se abatem fabricando a miragem de um harém democrático onde o poeta tarado e reabilitado em sua dignidade de tarado, reabilita em quase divina e erótica missão as garotas excluídas, porque até então eram consideradas como feias, ou como disse o genial Vinicius de Moraes: "As feias que me perdoem, mas beleza é fundamental." O tarado as reabilita e as inclui na confederação da sensualidade geral. Bolero mestiço, bossa nova amazônica, onde as dunas de areia viram ondas musicais.


Voa, voa, perereca
Composição: Sérgio Amado


Coitada da perereca dela
É tão bela, é tão bela
Coitado do meu passarinho
Tão sózinho, tão sózinho
A perereca quer voar
Voa, voa, perereca
Mas não deixa aqui nesse cantinho
Tão sozinho meu passarinho

– Marcha-rancho nostálgica e erótico-buliçosa de fábula infantil, de um Brasil antigo e eterno.

terça-feira, janeiro 17, 2006

Pour Luiza


Ontem você não queria falar com ninguém, e eu entendo o que você deve estar sentindo. Gostaria de poder te ajudar, e por isso, estou te escrevendo.

Quando tinha 12 ou 13 anos, não lembro bem, fui com alguns amigos na piscina do centro esportivo da Moóca, ali em frente a São Judas. Nesse dia a piscina normal estava fechada devido algum problema e, apenas a piscina olímpica seria liberada. Só que somente poderiam entrar as pessoas que soubessem nadar. Todos meus amigos entraram e eu fiquei de fora olhando pelo alambrado eles se divertirem no maior dia de sol. Eu achava que já sabia nadar, mas nunca tinha entrado numa piscina que não desse pé e então fiquei com medo. Naquele dia eu prometi pra mim mesmo que na próxima oportunidade que tivesse, iria mergulhar numa piscina que não desse pé. Quando esse dia chegou, é lógico que estava com medo. Uma coisa e você fazer os movimentos certinhos mas, a qualquer momento, ficar em pé e sentir o chão. Outra seria mergulhar e tentar atravessar a piscina sem poder parar no meio. Mas eu resolvi passar por cima do medo e mergulhei e tudo deu certo. Só sei que em seguida já estava saltando do trampolim pequeno, de pé e depois de cabeça e depois do grande mas esse só em pé. Talvez tivesse atingido meu limite, mas estava satisfeito por ter chegado até esse ponto.

Você também, ao longo da sua vida, já deve ter passado por vários momentos como esse e já deve ter percebido que o medo paralisa a gente. Você já aprendeu a nadar, e nada muito bem, dança o ballet e cada vez melhor, etc, etc.

Agora você tinha um desafio e não conseguiu superar. É bom que você sinta essa dor pelo fracasso mas, o importante, é o que a gente pode aprender com ele (dizem até que são melhores professores que os sucessos).

Você deu tudo que poderia dar? Se não deu, porque não deu? Não estava interessada no desafio? Estabeleceu uma rotina de estudos e a seguiu a risca, disciplinadamente? Senão, porque não? Todas essas respostas esta na hora de você procurar.

Pode ficar triste e chateada por um dia, dois, uma semana, um mês... mas o importante são as resoluções que você vai tomar depois desse período. Sim porque, nessas horas, é que é importante tomarmos decisões que tragam mudanças na nossa vida.

Tem um ditado que diz que se a gente ficar fazendo/pensando sempre as mesmas coisas, vamos colher sempre os mesmos resultados.

Então vamos nos recolher ao nosso cantinho, meditar, e ver onde erramos e o que podemos fazer pra MUDAR. Você vai ver que essas tomadas de decisão fazem a gente se sentir bem melhor e mais confiante. Só não vale se deixar abater e se achar incapaz. Estabeleça metas pequenas e vá alcançando-as uma de cada vez, que é pra não desanimar.
Tá cheio de gente do seu lado pra te ajudar (mesmo que seja com uma bronca de vez em quando).

Beijos

quinta-feira, janeiro 12, 2006

Estatuto da Igualdade Racial - Constituindo o Racismo

Depois que fiquei sabendo que o senhor Demétrio Magnoli era freqüentador, a bem da verdade não sei se assíduo, dos sonhos do respeitável Contardo Calligaris, que muito admiro, fiquei curioso e hoje resolvi dar uma lida na sua coluna na Falha de (ops) digo, Folha de São Paulo.
O assunto era o tal do Estatuto da Igualdade Racial, de autoria do, na época senador, agora deputado Paulo Paim (PT), que está em tramitação, foi aprovado pelo senado e deverá ir pra apreciação na Câmara.
Quem me conhece sabe que sou totalmente anti-racista. Acho que pessoas que tem qualquer tipo de preconceito étnico devem ser estigmatizadas e isoladas o mais que possível do convívio social. Para isso já existem leis, que apenas devem ser difundidas e aplicadas.
No entanto acho que esse tipo de regulamentação é, senão inócua, criadora de mais atritos do que os benefícios que pretende. Senão vejamos os principais pontos abordados no artigo:

1 - Ele determina a classificação racial compulsória de cada brasileiro por meio da identificação obrigatória da "raça" em todos os documentos gerados nos sistemas de ensino, saúde, trabalho e previdência.
Pelo que sei essa classificação será declaratória, então, nada impede que as pessoas se declarem de acordo com suas conveniências, visando obter os privilégios previstos na lei.

2 - generaliza o sistema de cotas "raciais" em toda a esfera pública e força a difusão das cotas na economia privada por meio de expedientes como concorrências e compras governamentais dirigidas. Nos termos da nova lei, o mercado de trabalho será subordinado a reservas e monopólios "raciais".
Quer, na marra, tornar iguais os diferentes. Tirando-se os excessos, tipo requisitos de boa aparência, as oportunidades devem sempre premiar os méritos. Seria muito mais proveitoso, embora mais trabalhoso, procurar garantir oportunidades para todos, através de um sistema público de ensino de qualidade, e condições econômicas para que todos possam usufrui-lo.

3 - O estatuto introduz o conceito de "reparação histórica", que passa a nortear as relações entre a "nação afro-brasileira" e a "nação branca".
Essa é dose. A “nação branca” atual passa a se responsabilizar, inclusive financeiramente, pois já ouvi falar de um tal “Fundo de reparação histórica”, ou seja mais impostos, destinado a compensação financeira por danos causados pela época da escravidão. Sejamos claros: quanto racismo adormecido irá emergir por causa dessa medida? Neguinho (sentido figurado) filho, neto, bisneto de imigrantes, europeus por exemplo, cujos antepassados nada tiveram a ver com o período escravocrata, cujos antepassados também comeram o pão que o diabo amassou, agora vão contribuir ”dócilmente” para essa “reparação histórica”?

4 - O estatuto estimula a criação de uma infinidade de novos cargos públicos reservados, por lei, a dirigentes de ONGs "representativas dos afro-brasileiros" e estabelece cotas "raciais" para altos cargos da administração pública.
Agora a coisa começa a fazer sentido. O próprio artigo expressa bem o que penso:
Houve um tempo no qual a ideologia era o alimento dos ideólogos. Hoje, tornou-se veículo para a promoção dos seus interesses profissionais e pecuniários.

Resumindo, acredito que o racismo exista no Brasil, embora de forma bem mais velada que, por exemplo, nos Estados Unidos. Mesmo lá, isso não impede que, através de uma democratização das oportunidades, negros e outras minorias possam ter ascenção social. Então, mais uma vez, estamos atacando os efeitos e não as causas da segregação, através de leis que tentam, na marra, corrigir as distorções, mas que irão, na prática, criar privilégios, que por sua vez irão gerar novas tensões raciais.

quarta-feira, janeiro 11, 2006

Enchendo Linguiça

Blogueiro em crise apela para listas alheias e rouba do Alex Castro, que por sua vez roubou do Mestre Idelber:

Quatro empregos que você já teve:
1. Estagiário de Geologia no IPT.
2. Entrevistador no Instituto Gallup.
3. Programador.
4. Analista de Sistemas.

Quatro filmes que você poderia assistir infinitamente:
1. Apocalipse Now (Coppola).
2. La Dolce Vita (Fellini)
3. Closer (Milus Forman)
4. Mahattan (Woody Allen)

Quatro lugares em que você morou:
1. São Paulo - por 45 anos.
2. Biritiba Mirim – 2 meses.
3. Osasco - por 2 anos.
4. Jarinu - atual.
(tudo SP)

Quatro programas de TV que você adora assistir:
1. Casseta e Planeta.
2. Sex and the City.
3. Manhattan Conection (adorava, agora não tanto).
4. Conexão Internacional.

Quatro lugares em que você já esteve de férias:
1. Paratí.
2. Porto Seguro.
3. Peruíbe.
4. Rio Verde (reserva da Juréia).

Quatro blogs que você visita diariamente:
1. Alex Castro
2. Biajoni
3. Pecus Bilis
4. Dito Assim

Quatro de suas comidas favoritas:
1. Feijoada.
2. Nhoque com frango da mama.
3. Churrasco (mal passado).
4. Bacalhoada.

Quatro lugares em que você preferiria estar agora:
1. Praia de Trindade em Paratí
2. Praia de Santiago em São Sebastião
3. Florianópolis
4. Roma

Quatro discos sem os quais você não pode viver :
1. Yes (Close to the Edge).
2. Eric Clapton (No Reason to Cry).
3. Ella Fitzgerald & Louis Armstrong (vol. 1)
4. João Gilberto (Amoroso e Brasil - tem versão em CD com os dois juntos, imperdível)

Quatro carros que você já teve: os 4 últimos
1. Fiat Siena – 2001
2. Ford Escort ­ 1996
3. Chevrolet Kadet - 1993
4. Paratí - 1989

domingo, janeiro 08, 2006

Um dia perfeito

Sexta-feira à noite, degustando a tradicional pizza com vinho, toca o telefone. Era o amigo de infância que dizia querer, finalmente, conhecer minha nova casa. Como ele está na categoria dos que “chegam e vão abrindo a geladeira”, é claro que falei que podia vir. Dei as coordenadas do trem e da estação que deveria descer, e combinamos o horário para pegar sua troupie na estação da cidade vizinha.
Dia seguinte, levantamos cedo porque alguns preparativos precisavam ser feitos. Cardápio do almoço, claro, churrasco que é o mais prático. Uma passada na cidade para as compras, e vou busca-los na estação. Estavam apenas ele, a esposa e um dos filhos (os outros dois e o neto não puderam vir, fica pra outra oportunidade). Chegando, as apresentações, que alguns ainda nem se conheciam, minha filha, a amiga, seu filho agora adulto e economista formado.
Muitos prazeres a serem trocados, muita coisa pra ser dita, cumprimos logo os protocolos: mostrar a casa, os cachorros, guardar as malas, trocar de roupa, pra aproveitar a piscina que o dia era de sol, muito sol.
Começam as conversas, e as panelinhas vão se formando. Alguns apenas tomando sol, as mulheres, sempre prestativas, já cuidando do almoço, e nós (eu, ele e o filho) já começando a por os assuntos em dia. O garoto já pensando no mestrado, ele animado, por enquanto, no novo trabalho e eu, também, de alguma forma recomeçando a vida. Mas um bom papo precisa de uma trilha sonora a altura. Nos permitimos um saudosismo sadio e tascamos de cara LED ZEPPELIN (coletânea) e THE WHO (Quadrophenia e Tommy), afinal precisamos fazer as cabeças dos garotos.
Enquanto isso, as primeiras caipirinhas vão sendo consumidas, enquanto as cervejas vão gelando. Há tempo para beijos e mordidinhas no pescoço da companheira, enquanto lava as verduras para a salada verde. Fogo aceso, picanha grelhando, e conversa, muita conversa. A essa altura, todos participam e dão suas opiniões, que podem ser as mais diversas possíveis, mas nada que venha a atrapalhar a harmonia reinante. Em tempo: o sorriso delas continua lindo.
Bucho cheio, ninguém pensa em dormir. O amigo se interessa pelos cd´s de blues e, com prazer, ouvimos Buddy Guy (Fells like a rain), o insandecido Roy Buchanam, que quando não está na cadeia produz coisas maravilhosas como “When a guitar plays the blues”, e o saudoso Clarence “Gatemouth” Brown (No looking back), que se livrou do Katrina, mas veio a falecer logo depois (peixe fora d’agua é fogo).
As mulheres reclamam do monopólio da seleção musical, então mudamos para os nacionais. Mostro uma relíquia, Jorge Bem (ainda não Benjor), em “Tabua das Esmeraldas” e aproveitamos pra falar de blogues, já que esse disco fiquei sabendo a partir de uma votação feita no blog do IDELBER, pra eleger os dez melhores discos de MPB e, deu esse em primeiro. Também foi ele que indicou, entusiasticamente, Vanessa da Matta. Mas não poderia faltar o nosso guru Walter Franco. Ouvimos, então, seu último CD “Tutano”.
Fim do dia, como era de se esperar, as “ladies” vão se arrumar para o jantar “dançante” (ugh!) no restaurante do hotel da cidade, e sobra tempo pros machos se deliciarem com o DVD, presente dela no meu aniversário, do YES (“Songs From Tsongas”), comemorativo do 35. aniversário do grupo.
Acho que é a quarta ou quinta vez que vejo esse DVD duplo, e sempre me emociono. Não entendo como alguém pode ficar indiferente a um grupo com um nome tão positivista como esse: “YES”. Comento com o amigo o fato do Rick Wakemann estar a cara do meu pai. Nós dois concordamos, cada um com uma lágrima nos olhos, pela saudade. Somos dois bocós, mesmo.
Bem já que é inevitável, vamos ao jantar dançante. O conjunto até que é bonzinho. O cantor é super simpático e, resolvo colocar em prática, todos os meus conhecimentos adquiridos nas duas aulas de dança de salão que fiz o mês passado. Aprendi que forró também funciona no dois-pra-la-dois-pra-ca, só que mais rapidinho, então vamos lá.
Todas as damas retornam pra casa com seus pés inteiros e intocados, então é hora de acomodar todos para dormir e vir escrever esse “meu querido diário”.
A moça, lendo por cima do meu ombro o texto, lembra que o dia perfeito ainda não terminou. E eu não sei. Apenas gosto de deixar o melhor para o final.
Boa noite!

terça-feira, janeiro 03, 2006

Diálogos Impertinentes

Durante pausa para o café com bolacha no "selviço":
Eu: Pô M. e A., vocês com a mesma blusa preta e esse cabelos lindos,
também todo preto, de costas estão iguaizinhas!
M: Wil, desculpe, mas tem uma diferença: a largura.
Eu: Que nada, eu como um cavalheiro, não dou atenção a esses
detalhes.
M: Verdade! Então vou te adicionar a minha lista de amiguinhos
preferidos...
AL (lá do fundo intervém): Wil, nessa você se saiu bem, hein!

Por isso eu adoro as mulheres. A propósito, alguém sabe quando e onde vai passar "O Homem que amava as mulheres" do François Truffaut? Várias vezes eu tentei e não consegui ver esse filme. Na Blockbuster também não está em catálogo.

segunda-feira, janeiro 02, 2006

Andando em círculos

Uma pessoa muito querida, que lê esse blog mas não gosta de conturbar sua congestionada caixa de comentários, preferindo se comunicar via e-mail, me colocou a seguinte pergunta:
“Você não sente, às vezes, que sua vida está andando em círculos?”

Bom, já que ela provocou, eu não vou perder a piada: Se dermos crédito ao ditado “do pó viemos, ao pó retornaremos”, então, querida, toda nossa vida é um imenso circulo que só se fecha no momento da nossa morte.

Mas, tentando falar a sério, faz tempo desisti de ter uma visão linear da vida, pelo menos a minha.

Na infância ainda é fácil, com nossos pais traçando os planos, nos provendo de tudo e de todos os sentimentos, fazendo nossas escolhas, nos protegendo das dúvidas e indefinições.

Na adolescência a coisa já começa a pegar. Tem filho de jogador de futebol que quer ser bailarino. Filha de mãe marxista que resolve ser freira, etc. Alguém vai começar a se machucar, em geral ambos os lados. A escolha do melhor caminho começa a ter que levar em consideração as pessoas que iremos magoar. Arrependimentos começam a aparecer no horizonte, terceiras vias são formuladas, todo nosso arsenal intelectual se põe a serviço de justificativas e explicações.

Juntando os cacos que sobraram pelo caminho vem as primeiras relações amorosas e, mais dúvidas: casar ou comprar uma bicicleta? Todas as decisões tendo que ser irremediavelmente definitivas. E se errar? Como consertar?

Quando as coisas parecem se encaminhar pra um final feliz, as ansiedades sob controle, a busca da plenitude em vias de ser alcançada, sempre corre-se o risco de surpresas que desestabilizam e fazem com que se perceba o pouco controle que se tem dos sentimentos, e novamente somos levados a escolhas novas e cada vez mais difíceis. E aquilo que parecia definitivo, torna-se temporário, e lá vamos nós de novo...

E assim, de decisão em decisão, vamos fazendo nossos caminhos. A sensação de estar vivendo em círculos nada mais é que a dificuldade das escolhas. Temos basicamente dois parâmetros para avaliação e tomada de decisão: a emoção e a razão. Cada um deles com seus prós e seus contras, muitas vezes em quantidades iguais, muitas vezes contaminados de preconceitos, preocupações com o que terceiros irão pensar/falar, medos os mais diversos. Qual deles deve prevalecer? Não sei. Acredito que o mais puro, o menos “contaminado” pelos fatores que citei. Mas cada caso é um caso (sempre somos “panglossianos”, uma hora ou outra).

O importante é que sempre deve existir a possibilidade de retorno de caminho escolhido e que tenha se mostrado equivocado. Uma volta ao ponto de bifurcação, quando, com o conhecimento adquirido durante o trajeto, possamos enxergar novas, ou as mesmas opções com novos olhos.

Não correndo, em hipótese nenhuma, o risco de ser original, posso terminar dizendo que é sempre melhor errar por opção do que por omissão.

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