sexta-feira, janeiro 27, 2006

I Love São Paulo

Nasci, não a 10 mil anos atrás como Raulzito, mas, um pouco menos, 48 anos na Maternidade do Brás. Morei na Mooca até os seis anos e, em seguida, nos mudamos para, como dizia a resto da família que continuou na Moóca, os ‘confins do Judas’ que, hoje, é um bairro vizinho a uma das zonas mais valorizadas da lado leste, o Jardim Anália Franco, o que fez com que o remediado aqui tivesse o imóvel, herdado da família, valorizado proporcionalmente. Deixei de morar na cidade a cerca de três anos, mas nunca perdi os vínculos, mantendo inclusive o titulo de eleitor na mesma seção.
O que gostaria de dizer sobre a cidade vem de três situações que mostram o quanto a cidade pode ser aconchegante em determinadas situações.

31.12.2004

Véspera de ano novo, estava só, morando em Jarinú, com um caso de amor mal resolvido, aguardando o desenrolar dos acontecimentos (vulgo dando um tempo).
Combinado de passar o ano na casa de minha mãe, chego a cidade por volta das 18 horas, ou seja, muito cedo pra começar as comemorações, resolvo dar uma paradinha na região da Rua Augusta pra espairecer. Vejo uma loja de CD´s aberta, a Neto Discos, e entro pra matar o tempo. Me surpreendo com a quantidade de pessoas no estabelecimento, afinal estavamos perto da virada do ano. Começo a olhar o acervo, na sua maioria composto de ofertas bem atraentes. Seleciono, todos a preços módicos, um CD do Oswaldinho do Acordeon, um volume da coleção Jazz for the open road, e dois DVD’s: um da ópera Carmem de Bizzet e , La Bohème de Puccíni, numa versão de Baz Luhrman (o diretor de Moulin Rouge).

12.05.2005

Véspera do dia das mães, novamente só, com o mesmo caso resolvido e depois, novamente, ‘engripado’. Havia me decidido dar um fim de semana de solteiro e, já que não tinha nenhum compromisso com os filhos, que iriam passar o fim de semana com a mãe, vou pra São Paulo no sábado à tarde decidido a ficar por lá até o domingo, dia sagrado da mama. Novamente a mesma região Augusta e Bexiga.
Inicio com um périplo pra verificar as condições de pernoite nos hotéis da região. Descubro que a opção mais em conta é alugar um quarto por volta das 22 horas, naqueles hotéis que costuman estilizar tanto a letra ‘H’ que ela na verdade parece mais um ‘M’. Identificada a melhor opção, resolvo pegar um cineminha no Espaço Unibanco. Assisti ao 'Relatório Kinsley', sobre um cientista americano que dedica boa parte da sua vida a estudos sobre a sexualidade. Na saída percebo que está esfriando e não tinha nenhuma blusa na bagagem. Eram cerca de 19 ou 20 horas. Em menos de cinco minutos de caminhada achei uma lojinha de oriental, não sei se coreano, japonês ou chinês, onde comprei um moleton por 25 reais.
Decidi que o jantar seria no Bexiga, mas como não queria gastar muito, fugi das cantinas e degustei um feijão de corda delicioso, junto com nordestinos e universitários na rua Santo Antonio.
Já era hora de pegar um quarto para tomar um banho e pensar na noitada. Me dirigi ao Café PIU-PIU onde vi que iria tocar um conjunto de rock anos 70-80. Lá chegando fico surpreso que eles não aceitam cartão para as despesas. Sem problema, como cliente Bradesco, basta uma volta pelos arredores para achar um caixa eletrônico e sacar o dinheiro. Com o imprevisto chego e as mesas já estão todas tomadas e, resolvo ficar no balcão do bar aguardando o inicio do shown. Nesse meio tempo duas pessoas, um jovem e um outro da minha idade chegam, ficam ao meu lado e, do nada, começamos a conversar e identificamos várias afinidades musicais. O papo vai rolando junto com a cerveja, junto com a apresentação do conjunto, que era muito bom, e quando vejo já são duas da manhã e resolvo ir ao banheiro, já tencionando ir embora.
Na saída do banheiro verifico que o bar estava super-lotado, de tal forma que pra chegar a saída tenho que ir me esgueirando entre a multidão. Quando de repente percebo que estou bem em frete ao palco e o conjunto ataca uma seleção de Led Zeppelin (me lembro de Black Dog e Rock’n’roll). Resolvo dar um tempo e, sem me dar conta, estou pulando como um adolescente junto com todos os outros ao meu lado, muitos adolescentes, de verdade.

DOMIGO em SETEMBRO de 2005

Aquele caso que ia e vinha, agora acabou FONDO e, novamente na casa da mama, levanto e digo que tinha marcado com um amigo, pra não me esperar para o almoço. Na verdade apenas a necessidade de ficar só. Novamente a mesma região da Augusta, ‘easy rider’. Compro o jornal e fico vendo as opções de cinema, as notícias, os colunistas preferidos. Isso ao lado de um boteco. Começo a observar as pessoas. Muitos solitários, outros, casais meio bizarros, em alguns animação, em outros sinais de tristeza, mas todos na rua, tomando drinks, almoçando pratos simples, aparentemente 'habitues' do local. Dou uma ‘flanada’ pela região e retorno ao mesmo ponto onde resolvo almoçar, antes tomando uma caipirinha. Vejo que as baterias estão recarregadas. Não quero mais ficar só. Ligo pra uma amiga (na verdade mais que isso) pra marcar um cinema para a tarde e um chopp depois.

Moral da história: uma cidade que trata tão bem seus solitários, não pode ser chamada de desumana. Seu maior potencial são as pessoas. É o tudo e todos num só lugar. Os problemas, são muitos, mas os potencias de solução são maiores ainda.

Pra finalizar a epigrafe do artigo do Contardo Calligaris de ontem na Folha (quem não entender bem, leia-o na integra):

Está na hora de acreditar que é possível inventar e contar histórias na paisagem concreta de nossa vida. Por quê? Porque podemos desrespeitar o espaço em que vivemos, mas sempre respeitamos o cenário de nossos sonhos.

2 Comments:

At janeiro 27, 2006 9:09 AM, Anonymous Anônimo disse...

Puxa, se vc falar um pouquinho mais. vái incluir o jartdim ângela(uma das regiões mais violentas da cidade,prá não fugir do clichê) e todos vão pensar que foi o dimenstein que escreveu. Vc tá ficando cada dia melhor(qdo.escrve)MAS CONCORDO QDO.FALA DA NOSSA SAMPA. Discordo de quem diz que é desumana,etc etal.Carece é verdade de investimentos em equiptos coletivos(em todos os sentidoas)

 
At janeiro 27, 2006 9:12 AM, Anonymous Anônimo disse...

continuando: mas o povo é ótimo.Tenho minhas reservas, pois tá cheio de broncos, mal-educados,chatos de galocha, mas no fritar dos ovos o saldo é positivo.A diversidade tráz a qualidade, moramos numa metrópole, não?

 

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