terça-feira, janeiro 24, 2006

O Pneu

Ele entrou no metrô na estação República, já tarde da noite, depois de trabalho extra pra poder cumprir o cronograma do projeto. Ela já estava sentada fazendo palavras cruzadas. Do ângulo que ele estava podia observa-la sem ser invasivo. E ele a observou além do que normalmente fazia com outras mulheres. Chamou atenção sua cor, morena, olhos negros, boca bem delineada, e um nariz que beirava, não, era uma perfeição. A sombrancelha fina, parecia pintada por um Da Vinci inspirado. Perdido nessa contemplação o trajeto passou como um raio e, quando viu ela levantar, percebeu que também era a sua estação de desembarque.
Na saída da estação não fez questão de apressar o passo para poder acompanha-la à distância. Quando percebeu, estavam entrando no mesmo estacionamento e viu quando ela parou num carro igual ao seu, mesmo modelo e cor, poucos metros adiante. Entrou, entraram, cada um no seu carro e ele, saindo primeiro, ao contornar passando por ela, viu o pneu traseiro esquerdo no chão, quando ela também dava a saída, para só então perceber o problema. Pararam, e ele notou que não havia mais ninguém àquela hora no estacionamento, que pena . Imediatamente ofereceu seus serviços braçais.
Ao retirar o estepe do porta mala percebeu que o mesmo estava murcho. Ela ficou surpresa: como murcho se nunca o usei! Faziam dois anos que ela tinha comprado o carro, zero. Era a primeira vez que um pneu furava. Calibrar o estepe? Precisa? Não nunca calibrei!
Como os carros eram iguais, ele poderia emprestar o seu estepe, mas onde achar um borracheiro aberto aquela hora? Descobriram que moravam próximos um do outro, coisa de algumas quadras de distância, no mesmo bairro. Ele sugeriu que fossem pra casa e no dia seguinte, ajustaram seus horários de trabalho, e ele passaria no seu prédio pra irem a um borracheiro e trocar o pneu. E assim foi feito.
Naquela noite ele não conseguia deixar de pensar na moça, nas coincidências e, principalmente em dois olhares trocados.
No dia e hora seguintes combinadas, eles vão fazer a troca dos pneus. Ela fica muito agradecida e trocam telefones.
Na semana seguinte ele chega a conclusão que tanta coincidência não podia ser assim relevada, sem mais nem menos, e resolve ligar. Tudo bem com o pneu, então, que tal um jantar? Não, aquele fim de semana ela já tinha combinado passar na chácara de um primo. Mas ligue a semana que vem, quem sabe?
Ele já estava achando que era alarme falso, mas, na semana seguinte, contrariando sua natureza não muito persistente, ele liga de novo e, agora dá, na sexta, pode ser.
Uma cantina, um vinho italiano, uma ótima conversa e, um cinema e um barzinho na semana seguinte para, na próxima, o vinho já ser degustado no seu apartamento, acompanhado de uma massa que ele mesmo preparou.
Hoje, dois anos depois, ainda curtindo um relacionamento maduro e tranqüilo, quando numa roda de amigos alguém conta uma piada envolvendo a habilidade das mulheres com a direção e as coisas do automóvel, enquanto todos riem desbragadamente, ele apenas sorri e agradece, intimamente, pela maravilhosa natureza feminina.

4 Comments:

At janeiro 25, 2006 9:52 AM, Anonymous Anônimo disse...

hello,
diz uma coisa: isso tudo é verdade outemos um ficcionista aparecendo?
O texto é bom, tem humor, estilo e prende.(se vejo algum futuro? pode ser que sim ou que não, depende; tb não ia encher tua bola ssim de cara, né?)
tô gostanto e isso já é muito.
abraços

 
At janeiro 25, 2006 9:54 AM, Anonymous Anônimo disse...

eu de novo, me ajude a encontrar um nome novo pro meu brog, encontrei três parônimos, obrigaqdo

 
At janeiro 25, 2006 12:40 PM, Anonymous Anônimo disse...

Pura ficção.

 
At janeiro 25, 2006 12:43 PM, Anonymous Anônimo disse...

Quanto ao nome, acho uma coisa muito pessoal. Mas se quiser lhe empresto um que pensei em começar, mas só criei o template e já deletei: 'extraído a forceps'

 

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