terça-feira, outubro 24, 2006

A viagem

Estava indo de carro para o serviço. Parei no posto em Campo Limpo para abastecer e tomar um café com pão de queijo.
Pra seguir viagem rumo Alphaville, achei que estava com espírito para ouvir um som e pus um no toca-cd. Realmente estava muito bom, valia um plus no volume. Aquele ritmo, aquela bateria seca e límpida, aqueles metais luminosos, pediam mais uns decibéis. Mais alguns + no volume e senti uma pequena distorção, o que era imperdoável para ouvidos sensíveis. Baixa um ponto e, voilá, a música perfurando, não, envolvendo, todos os tímpanos, membranas, corações e mentes como só ela consegue.
Agora deixa eu dizer: não estava ouvindo qualquer coisa não. Era, nada mais nada menos que Clarence “Gatemouth” Brown, o mago do blues texano, mas com várias outras influências. Um septuagenário com brios e punch de menino. O cd, Real Life, gravado ao vivo, no Caravan Of Dreams (bonito nome, não) em 1985.
Conheci esse cara, ao vivo, num dos festivais de jazz aqui de São Paulo, nos idos de 93-94, mais ou menos. Foi um deslumbre, principalmente depois de assisitr Bo Didley com sua macaquices no palco. Mas não vamos tergiversar.
O que quero dizer é sobre o poder inebriante da boa música. Ouvir esse cara tocando blues, jazz-blues, cajun e zydeco music (influências de New Orleans), fez com que a viagem fosse “a viagem”. A cabeça não parava de balançar, as mãos tamborilavam no volante, o carro todo “ondulava”, provavelmente por toques imperceptíveis, mas ritmados, do pé no acelerador.
Enfim, posso dizer, que o bólido era dirigido por mim, mas guiado pelo espírito do blues. Sim, porque ele já morreu, sobrevivente do Katrina, mas não da desilusão e angústia de ver sua New Orleans destruída.
Quando entrei no Rodoanel do Sr. Mario Covas, o Cd acabou e entrou uma entrevista do Alckimin na CBN. Não, não dava pra encarar. Coloquei em repeat, e ouvi mais uns quinze minutos até chegar no estacionamento da empresa.
Aí foi deixar a adrenalina baixar pra conseguir voltar a verdadeira 'Real Life'.
Só pra complementar, muitas vezes vejo pessoas trabalhando o tempo todo com o fone de ouvido ligado, em geral ouvindo música. Não consigo ter esse tipo de relação com ela. Ou ela me absorve completamente, ou não vale a pena deixa-la servir apenas de pano de fundo para outras atividades. Infelizmente acho que sou mono-processamento.

1 Comments:

At outubro 26, 2006 8:29 AM, Anonymous Anônimo disse...

Ah a música! essa poderosa ferramenta ao nosso dispor. Ela tem mesmo esse dom de nos envolver, tomar por completo e transportar para lugares e tempos os mais diversos. E quando conseguímos nos abstrair, nos desconectar desse mundo, acho que a palavra seria "unplugged" aí ela torna a "viagem" completa. Tem certas obras que conseguem isso e aí a felicidade é completa. Não conheço o autor que vc cita, aliás conheço muito pouca música mas já aconteceu comigo o que vc relata, realmente é uma "viagem".
Abraço

 

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