terça-feira, abril 18, 2006

Esta Vida É Louca

“Esta vida é muito louca, e loucura pouca é bobagem” (Rita Lee).
Biafra, Claus, Wanderlei, Marcelo, Igor (que por sinal está na Europa), Azael e Escova e Rogério (que dão a maior força) e Mané – gênio louco da coreografia da vida, e ainda todos nós que fomos ouvi-los e vê-los – e o “Premeditando o Breque” (“Premê”) constituímos o show bem chamado de “Sem Vergonha”, que sem dúvida muito louco e divertido, pintou para resgatar o humor necessário com que se deve tratar a vida.
E, a partir desse comercial descarado e, por que não, “professori”, sem vergonha, é que estou falando de resgate. Segundo o Aurélio, a palavra resgate quer dizer: 1. Ato ou efeito de resgatar(-se). 2. A quantia necessária ao resgate de escravo, prisioneiro, dívida, etc. 3. Libertação, livramento.
É por aí. Ir a luta para resgatar o nosso humor, o nosso amor, o nosso suor, a nossa liberdade, a nossa cidade, a nossa amizade. Tentar conquistar (e, muitas vezes, o preço é caro e dolorido) nossa pessoa. Com todos o elementos perceptivos presentes. Nossa visão que, embotada, não via mais o brilho de um olhar no escuro. Nossa audição que, colonizada, não ouvia mais nossa própria respiração. Nosso paladar que, industrializado, não sentia mais o gosto da saliva. Nosso olfato que, em práticos e eficientes sprays, perdeu a capacidade de diferenciação entre o natural e o artificial. Nosso tato que, enluvado, não achava mais o tato do outro. Nossa vergonha que, transformada em falsa ousadia e ansiedade, passou a ser desavergonhada (o que é muito diferente de sem vergonha). Nosso humor que, sem graça, passou a ser piada. Nosso amor que, embalado e vendido em horários nobres, passou a ser imitação de atitudes ao invés de ser criativo e bonito. Nosso suor que, contido, passou a ser pecado. Nossa liberdade que, ausente, passou a ser subversiva. Nossa cidade que cresceu e se esqueceu. Nossa amizade que era frágil e se quebrou.
Resgatemos nossa loucura, para fugir dos padrões oficiais que determinam o que é saúde (principalmente a mental) e predeterminam a doença social do medo, que esconde a condição de oprimido.
Libertemo-nos das normas e regras que desejam nosso bom comportamento, oferecendo em troca, nossa possibilidade de, ao final da vida, sacar que a morte não nos rende juros nem correção monetária para nada.
Meditemos, irmãos, e premeditemos nosso breque. Pára com isso, vê se acorda, tudo é perigoso, tudo é divino-maravilhoso, hoje é o primeiro dia do resto de nossas vidas, e isso é bom que mete medo, e se mete medo é bom, isso é bom barbaridade.
A poesia não tem linguagem, e talvez o poeta seja aquele que não durma mais que o necessário, somente o necessário. Lembra do urso do Mowgli? E lembra da risada da criança que assistia o filme ao seu lado, entendendo tudo que você não compreendia?
Eu quero mais é acordar sem ser chamado pelo despertador, pois ele foi programado não para me acordar, mas sim para manter meu sono. E não quero mais saber de levantar sem espreguiçar, trabalhar sem gostar, passar o dia sem saber de nada, amar sem mim e sem você, dormir sem ter ficado acordado.
Os que controlam nossas vidas só querem mesmo que a gente fique dormindo, acumulando nossa produção criativa para o dia seguinte, enquanto eles acumulam outros valores capitalizados em cima de nosso sono. Chega de achar que a melhor coisa do mundo está fora de nosso alcance. Se formos afins, nós resgatamos qualquer coisa. Deixamos de ser escravos, fugimos dessa prisão, pagamos essa dívida para com o prazer de estar vivos. Livramo-nos da condição numeral a que fomos estabelecidos. Percebemos o amor que está dentro da gente, e querendo explodir junto com o amor de quem está do nosso lado, e tocamos fogo nesse apartamento, damos mais um gole na pinga com limão que está a nossa frente, fazemos mais uma matéria na pós-graduação para poder saber de nós, e lemos mais um livro, levamos mais um papo, ouvimos mais uma conferência, dançamos mais uma música, saímos para a luta contra o que não nos permite ser livres, e aí, cansados do dia cheio, com o corpo pedindo cama, resgatamos nosso sonho no meio das carícias. No sonho o Zico pega a bola, passa para o Sócrates que devolve de calcanhar, vem o passe para nós, que somos centroavantes, e, de esquerda, mandamos para o fundo do gol. E vendo a cara desconsolada dos adversários, e não ligando para o cartão vermelho do juiz, da Fifa, do político, do coronel, dos donos da verdade, dos que são “autoridade”, damos um enorme abraço, beijamo-nos, formamos um tronco humano no meio do campo, com a geral invadindo o gramado e juntando-se a nós, embolando tudo, começando tudo de novo, resgatando a liberdade, e saindo pro carnaval, que vai durar até bem depois do carnaval.

5 Comments:

At abril 19, 2006 5:33 AM, Blogger valter ferraz disse...

falow!

 
At abril 19, 2006 10:48 PM, Anonymous Anônimo disse...

Ola! Acabei de ouvir a mesma coisa só que de outra forma. Mas isso não importa. Lendo esse texto lembrei de um cara que conheci, acho que , em 1982. Será que ele está voltando? sempre senti muito falta dele.

 
At abril 20, 2006 5:42 PM, Blogger valter ferraz disse...

Aí rosana, se apaixonou pelo cara errado, heheheh

 
At abril 20, 2006 5:42 PM, Blogger valter ferraz disse...

falow do mesmo jeito, o que vale são as idéias

 
At abril 26, 2006 2:41 PM, Blogger valter ferraz disse...

Rosana, vai ver o cara é o mesmo, só deu um tempo no romantismo. Em 1982? sei não, acho que conhecí esse menino.

 

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