quarta-feira, março 29, 2006

É a política

Após um fim de semana off-line, por opção, aproveitando uma folga hoje no serviço, verifiquei que rolou uma boa discussão no ‘dito assim’, sobre os últimos escândalos do governo Lula. Percebi que o tom geral ia do desânimo a verdadeiro nojo da situação atual.
Acho justificáveis todas as posições ali expressadas. Mas gostaria de dar o meu pitaco sobre o assunto.
Inicialmente gostaria de falar sobre o meu envolvimento com política, mais especificamente com o PT.
Comecei a cursar a faculdade (curso de Geologia na USP) no ano de 1976, ano em que se iniciava o processo de abertura do governo Figueiredo. Tive a oportunidade de participar do ressurgimento do movimento estudantil, desmantelado desde o AI-5. Acompanhei, com medo da repressão (vulgo coronel Erasmo Dias), as primeiras passeatas de repúdio ao regime militar. Foram experiências inesquecíveis, que acho que todo jovem deveria experimentar. Levamos pra dentro da escola a mesma postura contestadora, o que nos custou um ano a mais de curso, devido às greves por melhores condições de ensino. Passei a conviver diariamente com discussões políticas, que disputavam nossas atenções junto aos assuntos triviais, mulheres, futebol e o rock (tinha os puristas da MPB, mas a minha turma era a outra).
Tudo isso pra dizer que em 1980, quando fazia estágio na departamento de canais e vias navegáveis do IPT (ao lado da USP), antro de esquerdistas de diversos matizes, ficamos sabendo da notícia de fundação do PT, embalado pelo sucesso das greves dos metalúrgicos do ABC. Correu no departamento uma ficha de filiação a qual preenchi e assinei com prazer. Era a primeira vez que um partido político me procurava.
Constituído o partido vieram as primeiras eleições proporcionais e, como esperado, resultados pífios. Mas havia uma energia, uma disposição para a atividade política-partidária que nunca existiu antes, isso de acordo com depoimentos dos mais velhos.
Terminei a faculdade, casei, filhos e o partido sempre presente, na forma dos diretórios regionais, sempre próximo da base, o meu era no mesmo bairro que morava. Cartas informando e convidando para as atividades do mês. Prévias para escolha dos candidatos a prefeito, vereador, etc. Me lembro da que optavamos entre Plínio de Arruda Sampaio e Luiza Erundina para prefeitura de São Paulo. Em suma um modo totalmente diferente de fazer política.
Vieram os primeiros sucessos. A administração Erundina foi bastante elogiada até por opositores. O orçamento participativo trazia grandes progressos nas cidades do interior onde era implementado. Eram comuns reeleições de prefeitos petistas, proporcionalmente maior que os demais partidos.
Já não era mais um partido nanico. Portanto os problemas começaram a aparecer. Dentre eles, destaco a expulsão de deputados. Me lembro da atriz Bete Mendes, por discordarem de votações fechadas. Mas até isso era uma novidade, que não sabíamos, exatamente, se boa ou ruim. Afinal o que mais se via eram partidos com deputados sem nenhum comprometimento com programas e princípios. O PT era diferente. Exigia cumprimento de princípios. Parecia natural. Não sei como poderia se vislumbrar naquela época a tragédia que assistimos hoje. A não ser por desconhecidas substâncias visionárias, presentes no capim mascado por matutos pelo país afora (hehe, desculpe Valter, perco o amigo mas não perco a piada).
Deixa eu resumir que isso aqui é só um post. Quero dizer que não podemos desprezar o lado bom da experiência de um partido formado de baixo para cima. Acho que, hoje, o PT sofre do problema do inchaço e do deslumbramento causado pela chegada ao poder.
Não sei se a corrupção que vemos noticiada é maior ou menor que a dos seus antecessores. Isso não significa que devemos condescender com ela. Devemos exigir que se de exemplo de apuração e punição aos responsáveis. Mas daí a rejeitar todo o resto, acho que estamos fazendo o jogo de quem sempre dominou o país.
Acredito que hoje, existam outras forças que também merecem respeito, vulgo, pra dar nome aos bois, o PSDB, que tem em Fernando Henrique um dos meus outros ídolos, vá que seja, da juventude. Acho que de todo esse joio existe muito trigo. Minha posição atual é pelo fortalecimento de correntes que trabalhem pela união desse trigo, em torno de um projeto consensual. Não é possível que num país com as deficiências do nosso, não exista uma agenda mínima que una, ao invés de dividir, essas forças.
A evolução passaria por uma aliança, que estaria acima de, agora sim, projetos particulares de poder. Nesse sentido é educativa a situação que passamos. Chega de ficar alternando partidos que tem muita coisa em comum no poder. Um só atrapalha o outro e, muito mais, o desenvolvimento do país. Se as propostas (e não a ausência delas) são convergentes, então que se faça, até mesmo, um plano de alternância no poder (vide Chile).De quebra estaria se dispensando alianças com partidos, aí sim, amorfos e fisiologistas que só fazem alimentar a máquina da corrupção.

P.S: fiquei sabendo de uma pesquisa do IBOPE sobre corrupção. Se meus ouvidos não me enganaram, ouvi que 3 entre cada 4 brasileiros aceitam algum tipo de corrupção (exemplo, empregar parentes). É um resultado inquietante.

5 Comments:

At março 29, 2006 5:00 PM, Blogger valter ferraz disse...

Bom, como é só eu mesmo que comento aqui, posso me estender o quanto quiser, isto está abandonado mesmo, vou usar as táticas do pt e me apropriar: ei meu amigo, vc é ingênuo, sonhador e bom de coração. Lí com prazer teu relato pois reviví parte da minha vida, te lembras?sempre ao lado, à margem(eu)e vc ía nas assembléias, trazia informes, sei lá como é que chamavam aquele material. Eu saído do seminário há pouco, descrente até da existência de céu, inferno ou purgatório, não te entendia, mas respeitava, se bem que de vez em quando tirava uma onda também, pois esse meu humor cáustico e a depressão sempre me acompanharam. Enfim, divago. Mas, me lembro de minha postura crítica. Eu não acreditava naquilo. Eu não aceitava os meios, aquilo que voce via como novidade, para mim era oportunismo, e ainda estavam muito ligados à igreja católica, padres faziam verdadeiros discursos durante as missas, eu já não acreditava nos padres. Eu já não acreditava em mais nada. Lembro com carinho daquilo tudo. Mas voltemos aos dias de hoje que é o que interessa:não acredito que o que vc propõe logre sucesso. Está na raíz de nossa história. Somos capengas desde o início, fruto da colonização estabanada, espoliadora, expropriadora de nossos descobridores/colonizadores.Somos herdeiros dessa cultura do roubo, do escambo(machadinhos, espelhinhos em troca de bucetinhas, pau brasil,pedrinhas sem valor(!)e outras ninharias para abastecer as cortes oropéias; e até hoje babamos ovo p/qualquer estrangeiro que por aqui aporte. Falou enrolado, nós compramos.Compramos modelos de avião, modelos de infra-estrutura, de arremedos de cultura, de educação. Ah a educação, merece um capítulo à parte. Foste no ditoassim e presenciaste as discussões?Tem muito fefeletchs por aí, sem argumentos, só retórica. Ah! se eles soubessem o que eu sei. continuo num próximo post lá no perplexo.
Um abraço comovido e desesperançado.

 
At março 29, 2006 5:15 PM, Anonymous Anônimo disse...

Valter, concordo com praticamente tudo qu voce diz. acho que a diferença básica está no 'desesperançado' do final. Entendo que, por exemplo, pra quem está desempregado, é dificil aceitar que a situação não mude. Pra essas pessoas as mudanças são urgentes. Mas, infelizmente, o progresso, e prefiro acreditar que ele ocorrerá, vem aos poucos, de conta gotas. É um avançozinho aqui, uma retrogradazinha ali, e tudo sempre parecendo muito igual. Infelizmente! Mas não deixe cair essa sua bola toda de blogueiro atual.

 
At março 29, 2006 10:05 PM, Anonymous Anônimo disse...

Bom, eu sou um liberal, o que significa que não estou nem um pouco contente em viver num país que não tem "direita". Mas, pasmem, apoiei e votei no PT. Por quê? Porque eu tinha duas escolhas: a social-democracia serrista ou a esquerda pragmática de Lula.

Não gosto e não acredito na social-democracia do Serra da CPMF, do tabelamento de remédios, do autoritarismo centralizador de poder, etc. E, quando todo mundo dizia que Lula botaria fogo no país, eu falava que isso era balela e que ele não era mais o revolucionário dos anos 80. Somava-se a isso o fato de que eu e todo mundo, até oposição, acreditava na honestidade do partido, concordando ou não com eles.

Bom, não precisa dizer que votar no PT parecia um bom negócio, não é mesmo? Pois é, acertei num ponto, errei no outro. Mas, de qualquer forma, vejo com muito bons olhos o fato do PT ter chegado ao poder. Eles e o Brasil precisavam passar por isso para amadurecer, senão, estaríamos até hoje vivendo de utopias...

 
At março 30, 2006 9:14 AM, Blogger valter ferraz disse...

No ponto, Roger! Também não gosto de medidas impostas tipo essas que vc desfiou de quando Serra era ministro.Votei sempre no psdb, me decepcionaram tb, mas continuo achando que são uma opção, têm que melhorar. Votar no pt nunca me passou pela cabeça pelas razões que elenquei lá atráz, mas com um grande número de amigos petistas, vejo que eu estava certo e lamento, pois tb sofro a consequência. A gente sempre arruma alguém para pagar nossas faturas de fracasso pessoal.
O pt precisava chegar ao poder, mas pôxa tinha que pender logo para o lado podre? Podia ter ido mais devagar ao pote.Tenho amigos petistas históricos(existe essa classe?)que ficaram doentes, fisicamente mesmo, tamanho a decepção. Abraço

 
At abril 02, 2006 1:15 AM, Anonymous Anônimo disse...

Roger, é uma surpresa saber que você votou no Lula. Isso só reforça o quanto de esperança esse governo frustrou. Agora a questão é: e daqui pra frente, será que temos outras opções. No meu entender, se os partido não perceberem a encruzilhada em que estamos, ou seja, se entenderem, pra pensar em termos de país, e não em termos de projeto de poder pessoal, só me resta o voto nulo, infelizmente.

 

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