quinta-feira, agosto 17, 2006

De novo o Oriente Médio

A primeira vez que tomei contato com a questão sionista foi na adolescência, através do livro ‘Exodus’ de Leon Uris.
Ele narra, de forma romanceada, mas com certos conteúdos documentais, o êxodo do povo judeu, fugindo da Europa nazista, e indo dar na ‘Terra Prometida’. Um belo livro.
Criou-se o imbróglio. Com a vitória dos aliados, o drama do holocausto, aquele contingente de refugiados judeus traumatizados e dispostos a não mais serem enxotados. A perda da inocência, definitiva, do mundo.
Uma resolução da ONU, me parece, autorizou a criação do Estado de Israel, e junto criou um novo problema: o que fazer com os palestinos, os índios modernos, desalojados?
Para dar abrigo a uns, criaram-se novos refugiados. Quem pode manda. Quem não pode? Vira terrorista?
Amparados pelo apoio da opinião pública e, principalmente pelos EUA vitoriosos e elevados a super potência, Israel resolveu defender com unhas, dentes e tecnologia, seus "direitos adquiridos". Em 68, numa guerra relâmpago (seis dias exatamente), anexou novos territórios. Em 73, no Yonkippur, novas anexações, logo povoadas pelas colônias judaicas.
Por essa época comecei a questionar esse Deus, que devia ser único, mas, em não sendo unânime, em seu nome se matava e se subjugava. Bom, até aí nada de novo no front. Mas de que vale ele, então? Onde estava o humanismo, que não conseguia atingir corações e mentes para trazer a harmonia?
Se já era complicado naquela época, que dirá hoje, mais de 30 anos decorridos. Um detalhe lido no ‘Dito Assim’(post de 31/07): já, e a um bom tempo, existe uma nova geração que não conhece o que é viver em paz, em ambos os lados. Será que esse desconhecimento do que é a vida sem guerra, não é mais um ‘complicômetro’ para o entendimento.
Hoje existem o Hamas e o Hizbollah, que praticam atos terroristas, sempre hediondos, porque se valem do fator surpresa. Mas na época da formação do Estado de Israel havia o Irgon, grupo sionista clandestino. Foram considerados terroristas pelos britânicos, que abriram mão da Palestina Britânica, e pelos próprios judeus de Israel. Mas, em 72, vieram a fundar o Likud. Entre seus lideres figuravam Menachem Begin e Yitzhar Shamir, que chegaram a governar Israel.
Então, simplesmente classificar organizações como terroristas, não significa desconsiderar o que elas representam. O Hamas disputou e venceu eleições na Palestina.
Enquanto a idéia de que, para cada israelense morto num atentado, dez palestinos, não importa se velho, criança ou terrorista, deve ser sacrificado, não há como pensar em solução.
Se o problema árabe/judeu foi criado por uma sandice com epicentro europeu e, enquanto ambos os lados acharem que podem resolver isso pelo terror, de guerrilha ou de estado; enquanto quem tem poder de coerção sobre as partes em conflito, abdicar desse poder; enquanto se encarar a cultura muçulmana, apesar de todas suas idiossincrasias aos olhos ocidentais, como retrógrada e desprovida de valor; enquanto os interesses econômicos pelo petróleo ditarem as políticas de conchavo com oligarquias árabes não representativas; enquanto a idéia de aniquilamento do inimigo imperar; bom, pra quem acredita, só resta rezar por uma solução.
P.S.: esse post estava escrito já a algumas semanas, no auge dos combates no Líbano. Hoje existe uma trégua, que espero perdure. É impressionante o estrago feito, agora que imagens podem ser feitas com mais calma. Não acredito que pela força se imponha um vitorioso, mas parece que essa está sendo a lógica utilizada. Isso vai dar merda!

4 Comments:

At agosto 18, 2006 6:04 AM, Blogger valter ferraz disse...

Hei, cara! escutou? Não? É, é mesmo difícil para quem não "acredita" Nêle escutá-lo. Mas, creia Êle está aí sim. E lá no Líbano também, no Afeganistão, na Bósnia e também na África do Sul, na do Norte e na Subsaariana. Está porque habita o coração humano. Permanece intacto na mente de sua criatura que a cada dia mais e mais se afasta daquilo que foi feito por êle.
Às vêzes na solidão da madrugada insone eu me faço as mesmas perguntas que vc elencou aqui e aquilo que eram dúvidas juvenis, hoje mais de trinta anos passados me atormentam tentando imaginar onde está a verdade daquilo que foi ensinado. Amigo, creio em Deus e desacredito na humanidade. Bom, o intuito deste coment não era catequizá-lo. Digamos assim, que eu estou dando um tempo para vc. Lá na frente, em algum lugar do futuro nos encontraremos.
O conflito judeu como vc expõe com clareza jornalística é de difícil solução até pelas razões que vc relata. Uma solução nascida pela força das armas ou numa resolução da ONU só pode caminhar para mais e mais violência, numa carnificina sem tamanho. Aquele estrago que podemos constatar hoje pelas imagens que chegam deve ser um centésimo do que há na realidade. A humanidade sabe ser cruel. Populações civis, minorias étnicas e/ou religiosas sempre foram as vítimas preferênciais dos que pregam o uso da fôrça, das armas no lugar da razão. Se existe uma solução para êsses conflitos, hoje no Líbano amanhã talvez na Líbia, no Egito ou no Irã não estará essa solução em mais sangue inocente derramado. Está repousando em algum gabinete refrigerado há milhares de quilômetros, no Ocidente.
Paz para nós todos. Shalom!
PS: incrível que o povo que difundiu essa palavra, Shalom faça o uso da violência para dominar/expandir fronteiras, né?
PS2)Acho firmemente que você ainda está executando uma tarefa aquém do teu potencial. Você é um escritor, quando menos um jornalista. Pense nisto. Abraço para você.

 
At agosto 18, 2006 4:44 PM, Anonymous Anônimo disse...

Walter, belo comentário. Só dois pontos: Deus, pra mim, é só um conceito, que cada vez dou menos valor, tenho menos disposição para discutir. e quanto seu ps2, agora foi você que viajou na maionese.

abração

 
At agosto 18, 2006 7:17 PM, Blogger valter ferraz disse...

Discordo das duas digressões: 1) o fato de ser só um "conceito" para vc não significa que Êle não exista. Um pouco de dialélica(Nietze, pode ajudar se Spnoza não atrapalhar) sempre pode clarear a mente. Os últimos escritos de Sartre também ajudam a mudar "conceitos". O fato de vc não acreditar e eu sim, não impede que conversemos à respeito, pois não?
e 2) Viajei na maionese? bom falei sobre isso tb lá no Perplexo. E vc deveria pensar mais no assunto. Teu discurso é bom, vc tem estilo, e eu partilho da mesma opinião que o Fernando Cals por exemplo. Pensa no assunto, vai?
Hey, vamos marcar alguma coisa para esses dias? vê se responde meus e.mails, pô!

 
At agosto 21, 2006 6:12 PM, Anonymous Anônimo disse...

Belo post, Wilson. Abração!

 

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