sábado, fevereiro 18, 2006

Marginal Tietê e motociclistas

Hoje peguei a Marginal Tietê, sentido Castelo Branco, me dirigindo ao trabalho (é, em pleno sábado) em Alphaville. O humor, pra variar, não era dos melhores. Mas eis que de repente (oh!) começo a reparar nas margens do rio. Já havia visto antes, mas não tinha colocado atenção. Há mais ou menos três anos atrás, começaram as obras para rebaixamento da calha do rio, visando evitar enchentes ao longo de uma das vias mais importantes da cidade de São Paulo. Essa época coincidiu com a minha separação e, para fazer jus a promessa feita aos filhos que não iria me afastar deles, ficou combinado de pegar meu filho no colégio, à noite, duas vezes por semana (terças e quintas pra ser mais exato). Saia eu de Osasco para busca-lo no São Judas Tadeu na Móoca, ou seja, cruzava a cidade para poder manter o maior contato possível com ele. Ficava impressionado com o volume de caminhões que circulavam pelas margens do rio, tirando material escavado do seu fundo. Claro que, as vezes, haviam congestionamentos em plena onze, onze e meia da noite ao longo da marginal, por conta desse movimento intenso.
Hoje a obra deve estar terminando, porque o que me chamou a atenção foi o, digamos, “reflorestamento” que se tenta fazer nos não mais que 3 ou 4 metros que existem separando o rio do asfalto. Notei que praticamente toda a extensão do trecho que atravessa a cidade esta com uma infinidade de mudas de plantas e arvores. Fiquei contente em perceber que existe uma grande variedade de espécies, o que denota a preocupação em simular um ambiente natural de floresta. Achei um certo exagero, uma verdadeira frescura, a colocação de floreiras e forrações típicas de jardins. Quero ver como tudo isso vai ficar depois da primeira enchente, que, com certeza, vai haver.
Mas, de qualquer forma, foi emocionante ver uma área que, por toda a minha vida de paulistano, foi sinônimo de sujeira e abandono, começar a ser pensada como um “jardim”.
O contraste ainda é gritante, entre a margem e o leito propriamente dito, com suas águas ainda poluidíssimas, mas o efeito que a urbanização está causando é inegável.

Seguindo em frente, já no trecho inicial da Rodovia Castelo Branco, me deparo com um grupo de motociclistas (não é motoqueiros, que seria pejorativo, segundo meu amigo Mário), todos com suas maravilhosas Harley Davidson. Deviam ser cerca de dez ou doze, perfilados na pista do meio em pares. Iam numa velocidade de cruzeiro. Todos com suas jaquetas de couro, suas barrigas de cerveja, seus cabelos grisalhos, a maioria, e um semblante debochado e descontraído. Emparelhei pela pista da esquerda e fui lentamente acelerando para passar ao lado de cada um deles e observa-los. Com exceção de um, todos estavam sozinhos, vários naquela postura característica, com o pé levantado pra frente, apoiados na Santo Antonio da moto.
Em certos momentos deixei de acelerar e fiquei na mesma velocidade, num quadro extático. Havia uma sensação de paz e leveza impressionantes. Não havia barulho de motores. As motos e eu deslizávamos pelo asfalto.
Terminei de ultrapassar o primeiro da fila e os vi pelo retrovisor, e fiquei com a certeza de que o importante é estar em movimento, sem pressa de chegar, sem ansiedades, curtindo cada detalhe do que surgir pela frente.
Todas essas impressões ocorreram uma semana depois de ter feito o mesmo trajeto, com emoções totalmente diferentes. Vai entender!

P.S. trilha sonora para leitura: El negro del branco com Yamandu Costa e Paulo Moura. Maravilhosos!

1 Comments:

At fevereiro 22, 2006 9:03 AM, Anonymous Anônimo disse...

voce não tinha lido nada a respeito do projeto pomar?È do covas eo geraldinho continuou. A inciativa é boa, os resultados...só o tempo dirá. Aqui na marginal pinheiros ficou muito bom e as árvores já dão frutos. Alguém tem que pensar esta cidade como um ser vivo.
Sua reflexão sobre os motokas foi legal. A trilha sonora não conheço

 

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