quarta-feira, maio 17, 2006

Errata

Os links do post anterior eram para artigos da Folha de São Paulo, que não estão disponíveis para não assinantes. Segue, então, a integra dos textos linkados.


Pânico no galinheiro
DEMÉTRIO MAGNOLI

O PCC deflagrou ontem a guerra da informação. Existiram, aqui e ali, disparos reais, mas sobretudo os bandidos dispararam aleatoriamente chamadas telefônicas ameaçadoras. BUUU! A cidade de São Paulo reagiu como um imenso galinheiro. Rumores correram soltos, desatando reações em cadeia. Sob o influxo do boato, comerciantes baixaram portas de aço, pais assustados correram às escolas para resgatar as crianças e empresas suspenderam o serviço. De um bairro a outro, a cidade apagou-se ao longo da tarde.Sarajevo, a capital da Bósnia-Herzegóvina, não renunciou à vida, nem sob sítio e debaixo das rajadas de franco-atiradores. Os mercados de Bagdá funcionaram em meio aos estrondos das bombas e mísseis dos ataques norte-americanos. Londres não parou durante os bombardeios aéreos alemães, na Segunda Guerra Mundial. Mas São Paulo curvou-se à delinqüência comum. Vergonha!A culpa é dos governantes? Sempre, em primeiro lugar, a culpa é deles. Atônitas, cercadas por numerosas assessorias inúteis, as autoridades estaduais e federais entregaram-se desde domingo ao jogo eleitoral, elaborando declarações maliciosas sobre seus adversários. Mas esses especialistas na baixa política não foram capazes de identificar o sentido da operação do PCC e, na prática, renunciaram a governar.Na hora da primeira série de ataques coordenados, o governo do Estado de São Paulo tinha a obrigação de centralizar as forças policiais em um comando único de emergência. Em vez disso, talvez inspirado nas ações dos comandantes do Exército que, no Rio de Janeiro, firmaram um acordo fétido com o Comando Vermelho, ele preferiu iniciar negociações sigilosas com os chefes da delinqüência.De nada servem um governador e um secretário da Segurança impotentes diante de uma guerra de rumores. Ontem, enquanto os cidadãos se acovardavam, os boletins de notícias desempenhavam involuntariamente o papel destinado a eles no planejamento dos bandidos. Mas não passou pela cabeça vazia das autoridades o recurso elementar de, usando a legislação disponível, colocar a TV e o rádio em rede oficial, por todo o tempo necessário, a fim de desfazer a boataria, chamar as pessoas à razão e impedir o cancelamento da vida normal.A culpa é só dos governantes? Não, mil vezes não! São Paulo conheceu ontem os efeitos psicológicos da indústria do medo. A classe média que não deixa os seus filhos circularem de ônibus e metrô, que se cerca de câmeras e alarmes, que passeia apenas em shopping centers e aspira comprar um automóvel blindado correu na direção de seus bunkers domésticos murmurando tolices sobre a pena de morte. No começo da noite, um manto de silêncio desceu sobre a cidade. Vergonha!

A praça não é nossa
CLÓVIS ROSSI
ESTRASBURGO - É noite de domingo em Estrasburgo. Quer dizer, deveria ser noite, porque o sino da fenomenal catedral gótica da cidade já faz algum tempinho que tocou as oito horas. Mas ainda está claro, muito claro, o céu é límpido, e a place Kléber, a principal de Estrasburgo, está cheia de gente sentada às mesinhas de calçada. Esclareça-se que toda a praça é um calçadão.No hotel, zapeio pelos canais internacionais. A CNN mostra São Paulo transformada em Bagdá (menos destruída fisicamente, mas, ao fim e ao cabo, Bagdá pela quantidade de atentados praticados contra forças policiais). Mudo para a TV alemã. Não entendo nada, mas é de novo a São Paulo/Bagdá.Na TV francesa, na TV italiana, na espanhola, na BBC, idem. Só não conferi a Al Jazeera, porque aí seria uma ironia mortal.Volto à place Kléber com uma imensa sensação de derrota.Sinto-me agredido pela placidez dos comensais da praça. Começo a torcer para que um PCC local faça um arrastão, assalte todos eles, leve embora as bicicletas, até elas agressivas pelo silêncio ensurdecedor na comparação com o ruído infernal dos carros "lá bas".Nada disso acontece. No máximo, dois adolescentes, cheios de piercings, de garrafa na mão, passam falando alto. Eu me assusto de todo modo, mas os locais não dão a menor bola. Nem lhes passa pela cabeça que possam ser algo mais que bêbados.Não aparece nem mesmo um pedinte, um menino triste e pobre para dizer: "Oncle, me dá algum aí". Ou uma senhora de olhos amargurados pela dureza da vida vendendo flores para sustentar os filhos. Nada.O sino da catedral dá as nove horas, o som parece reverberar até o fim do mundo, até o fim dos tempos, mas a noite ainda demora meia hora para chegar. As gentes de Estrasburgo continuam a passear até pelas ruazinhas estreitas que, em São Paulo, seriam sinônimo de emboscada.Por que eles têm direito à sua praça e eu, você, nós, não?

4 Comments:

At maio 17, 2006 3:11 PM, Blogger valter ferraz disse...

Agora sim. Serviço completo, agora dá para comentar.
Bom, teorias à parte, acho que nestes momentos todos temos algo para contar, uma pequena estória de pânico. Mas veja, aqui na periferia da periferia não aconteceu nada, absolutamente nada. Porquê? Porque aqui é normal isso. A polícia aqui anda nas viaturas com metade do corpo para fora, armas na mão o tempo todo. Domingo de manhã, todos os domingos, tenho que pedir licença para dois brucutus que se postam na porta da padaria, calibres 12 na mão enquanto aguardam os parceiros filar um lanche, uma coxinha e o refri lá no balcão, depois trocam, é a vez dos comparsas, ops, dos colegas lá da porta. No balcão(aos domingos, todos os domingos)os traficantes e seus soldados fazem a partilha, comemoram as "fitas", som alto ensurdecedoramente alto(seis e quinze da manhã). Então te pergunto: estranhei? Não. Fiquei com medo? Claro que sim, pois o status Quo tinha sido alterado, a ordem natural das coisas tinha se esfarelado. Tive medo pelo Pablo que ainda não tinha chegado do trabalho noturno(chegou à pé, quatro horas depois). Tive medo pelo Tiago que ia trabalhar em Pinheiros e eu o convoque às 14:00hs de volta, os shop´pings fecharam, medo? claro que sim. Muita teoria nessas horas de nada ajuda. Pracinha em Estrasburgo? Mudem para lá. Me deixem aqui na periferia que eu sei muito bem quem são os meus "inimigos". Você sabia que aqui a bandidagem chama os polícias de "alemães", Mike e Steve? Periferia é isso, mano!
Abraço

 
At maio 17, 2006 3:53 PM, Blogger Marco Aurélio disse...

Wilson

Como se não bastasse esta situação caótica ainda existem uns idiotas que espalham boatos sobre PCC e alimentam pânico em SP através de e-mails , de mensagens de comunicadores instantâneos e em sites de relacionamento. Isso prejudica a vida de milhares de pessoas e ainda dificulta o trabalho da polícia e também da imprensa.
Antes de repassar qualquer mensagem para sua lista de contato, encaminhe-a sempre a empresas de antivírus, que poderão confirmar se são verdadeiras. Não vamos ajudar a complicar mais ainda a situação!

Veja exemplo de boato virtual que já circula pela web:

ISSO É URGENTE!! > >HOJE ÀS 18HS HAVERÁ UM ATAQUE DE VIOLENCIA NA CIDADE.... POR FAVOR, ESTEJAM >EM SUA CASA ÀS 18HS!!! > > AS 18 HS, VAI TER UMA AÇÃO DE VIOLÊNCIA NA CIDADE, A DIRETORIA DE UMA > GRANDE EMPRESA RECEBEU UMA CARTA DA POLÍCIA ÀS 10H DE HOJE AVISANDO A > RESPEITO DISSO.... > > TODOS OS FUNCIONÁRIOS VÃO SER DISPENSADOS A PARTIR DAS 16HS > QUE NÃO ERA PRA NINGUÉM FICAR NAS RUAS > OS ÓRGÃOS PUBLICOS TÃO REPASSANDO ESSA CARTA ÁS EMPRESAS LIGADAS AO > GOVERNO, COMO NO CASO DA DIRETORA DA EMPRESA QUE RECEBI ESTA INFORMAÇÃO. > > POR FAVOR, AVISE O MÁXIMO POSSÍVEL DE PESSOAS QUE VOCÊ CONHECE!!! > > ATENÇÃO, ISSO NÃO É TROTE, É SERIO..... POR FAVOR, AVISEM TODOS QUE VOCÊ > CONHECE!!! >

Obrigado

Um abraço

Marco Aurélio

 
At maio 17, 2006 10:37 PM, Anonymous Anônimo disse...

Valter e Marco Aurélio
Gostaria de responder aos dois, porque são dois lados que tem que se unir. Valter, que é amigo de infância, e Marco que estou tendo um primeiro contato (maravilhas da Internet).Somos reflexos dos diferentes mundos que existem no país. De um lado aqueles que convivem mais de perto com a violência, a corrupção, a
degradação da dignidade humana. De outro aqueles que acham que podem fugir desse mundo, através de bunkers, escolas particulares, planos de saúde, previdência privada, etc. Ledo e Ivo engano. Todos temos que procurar uma saída, juntos. Todos de uma forma ou de outra somos afetados e, todos, desejamos um mundo melhor o mais rápido possivel. Não quero parecer sonhador ou 'teórico', mas me recuso a deixar de acreditar e de ter esperança. Me recuso a me deixar vencer pelo medo, embora ele exista. Esse é o ponto. O e-mail que você mostrou, Marco, é um exemplo do poder que a Internet tem e que deve ser sempre analisado de forma crítica. Sendo, sempre, um pouco romântico: "É preciso estar atento e forte, não temos tempo de temer a morte".

Abraços aos dois.

 
At maio 17, 2006 10:38 PM, Anonymous Anônimo disse...

nova errata. o anônimo anterior sou euzinho.

 

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