quarta-feira, março 22, 2006

Tensão

"Lilith", extraído do livro Delta de Vênus

"A vida se contrai e se expande proporcionalmente à coragem do indivíduo."(Anaïs Nin)

"Lilith era sexualmente fria, e seu marido em parte o sabia, apesar das simulações dela... Eles estavam sentados ali, juntos, e ele a olhava com uma expressão de suave tolerância, a mesma que costumava manter diante das crises dela, crises de egotismo, de autocensura, de pânico. A todos os seus dramáticos comportamentos, ele respondia com inabalável bom humor e paciência.
Ela sempre enfurecia-se sozinha, irritava-se sozinha, suportava sozinha suas intensas convulsões emocionais, das quais ele nunca participava. Possivelmente, tratava-se de um símbolo de tensão que não ocorria entre eles sexualmente. Ele recusava todos os seus primitivos e violentos desafios e hostilidades, recusava-se a entrar com ela nessa arena emocional e a reagir à sua necessidade de ciúmes, temores, conflitos.
Talvez se ele tivesse aceitado seus desafios e jogado os jogos que ela gostava de jogar, talvez então ela poderia ter sentido sua presença com um impacto bem maior do que o meramente físico. Mas o marido de Lilith não conhecia os prelúdios do desejo sensual, não conhecia nenhum dos estimulantes que certas naturezas selvagens reclamam e, desse modo, em vez de responder-lhe tão logo visse seus cabelos se eriçarem, seu rosto mais vívido, seus olhos como duas tochas de fogo, seu corpo inquieto e impaciente como o de um cavalo que aguardasse o início da corrida, ele se refugiava atrás do muro da compreensão objetiva, dessa tranqüila e irritante atitude de aprovação com a qual as pessoas olham para um animal no zoológico e riem de suas momices, sem penetrar em seu estado interior.
Era isso que deixava Lilith num estado de isolamento - na verdade, como um animal selvagem em pleno deserto. Quando ela se enfurecia e sua temperatura subia, o marido simplesmente deixava de existir. Ele mais parecia uma branda divindade que a olhasse dos céus e aguardasse que sua fúria se exaurisse por si mesma.
Se ele, feito um animal igualmente primitivo, surgisse na outra extremidade desse deserto, encarando-a com a mesma tensão energética nos cabelos, na pele e nos olhos, se surgisse com o mesmo corpo selvagem, pisando fortemente e procurando um único pretexto para dar o bote, enlaçar-se furiosamente, sentir o calor e a força de seu oponente, então eles poderiam rolar juntos pelo chão e as mordidas poderiam tornar-se de outra espécie, e a luta se transformaria num abraço, e os puxões de cabelo fariam com que suas bocas, seus dentes e suas línguas se unissem.
E, devido à fúria, seus órgãos genitais se roçariam mutuamente, soltando faíscas, e os dois corpos sentiriam a necessidade de penetrar um no outro para pôr um fim nessa formidável tensão".

Porque postar esse texto? Bem, é um dos vários textos que, nos últimos anos, tenho guardado. Textos lidos de sites, blogs, e-mails, etc, que de alguma forma me tocaram e me identificaram, e que pensei em repassar para alguém para discussão. A maioria deles permaneceram guardados e, agora... bem, agora não interessa mais repassar, mas que são bonitos e importantes, eles são. Com relação a esse, resumiria dizendo que: muita tensão pode afetar o tesão.

1 Comments:

At março 23, 2006 10:00 PM, Blogger valter ferraz disse...

A velha teoria tensãoxtesão? será que existe mesmo essa co-relação/correlação na relação, na hora do rala e rola?(rola=verbo, não substantivo).
Acho que não acontece isso não.É coisa de quem tá no atraso mesmo. Às vezes punheta resolve, outras só sexo à dois, do bom mesmo. Por quê não tenta? Talvez funcione. Senão funcionar valeu pelo ao menos a tentativa.Isso se a parceira corresponder, caso contrário persiste a dúvida.

 

Postar um comentário

<< Home

Free Web Counters
Website Counters
eXTReMe Tracker